Uma regra básica na medicina prega que quanto mais cedo for diagnosticada uma doença, melhor. E quando se trata de um problema no coração essa regra ganha ainda mais importância. Afinal, é sempre bom manter o órgão com funcionamento impecável. Para ajudar nessa tarefa, desembarcou no Brasil um exame batizado de coronariotomografia ultra-rápida. Disponível por enquanto somente no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o teste detecta o aparecimento de placas de gordura na artéria coronária, que irriga o coração, mesmo que elas estejam ainda em estágio muito inicial. Se não forem detectadas a tempo, essas placas podem crescer e obstruir a passagem do sangue. O resultado é o infarto, quando o músculo do coração deixa de ser irrigado e pára de se contrair.
 

No teste, é possível detectar a formação de placas quando elas ainda ocupam cerca de 20% do diâmetro da artéria. Os outros exames hoje disponíveis não oferecem tanta sensibilidade. A cinecoronariografia – um cateter é colocado na artéria para investigar seu grau de comprometimento –, por exemplo, só acusa a presença de placas quando elas já obstruem 50% do diâmetro da artéria. Outro exame, o teste de esforço, localiza lesões que comprometem 70% do vaso sanguíneo. Ao denunciar o início do processo de depósito de gordura na artéria (aterosclerose), o exame possibilita que o paciente adote as medidas necessárias para não deixar a situação evoluir para um quadro pior. Entre elas, está a adoção de um estilo de vida saudável, com a inclusão de exercícios físicos, e, se for o caso, dar adeus ao cigarro. “Quanto mais cedo essas atitudes forem tomadas, melhor”, explica Romeu Sérgio Meneghelo, coordenador de Métodos Diagnósticos não Invasivos do Hospital Albert Einstein.
 

A proeza de conseguir detectar tão cedo o início do processo de aterosclerose é obtida graças a uma grande sofisticação do aparelho responsável pelo exame. Todo computadorizado, o equipamento permite a realização de imagens muito nítidas do coração, com grande velocidade. E, embora ele não capte imagens de dentro da coronária, é possível verificar a existência ou não de um depósito de cálcio sobre os vasos. Isso é importante porque, hoje, sabe-se que a ocorrência de cálcio na coronária indica que já está em andamento o processo de depósito de gordura dentro da artéria. Por isso, a presença de cálcio é usada como um indicativo de que a aterosclerose começou.
O aparelho, porém, vai ainda mais longe. Com ele, também é possível calcular a quantidade de cálcio presente na artéria. Numa escala própria, se o índice chegar até 100, a presença de gordura ainda é bem pequena. Se for entre 100 e 400, é preciso fazer um teste de esforço para avaliar melhor o grau de obstrução. E se der mais de 400 a probabilidade de as placas de gordura já estarem obstruindo quase todo o diâmetro da artéria já é muito grande e, por isso mesmo, é obrigatório fazer um exame mais detalhado.
 

O teste é indicado para homens com mais de 40 anos e mulheres que passaram pela menopausa e tenham um ou mais fatores de risco para doenças cardíacas (sedentarismo e fumo, por exemplo). Um executivo estressado que fuma ou uma mulher que tem casos na família de infarto estão entre os que deveriam fazer o exame. Foi o que fez Marion Jungermann, 51 anos, já que na sua família há história de problemas cardíacos. Ela descobriu que, apesar da carga genética, seu coração vai bem, obrigado. Disposta a preservar o órgão, Marion pretende continuar com suas caminhadas e até parar de fumar. “Vou continuar cuidando do meu coração”, diz.
Cilene Pereira.