08/03/2000 - 10:00
A candidatura do ministro da Fazenda, Pedro Malan, à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso aparentemente é coerente com as previsões otimistas em relação à performance do País daqui para a frente. Na reportagem da pág. 26 desta edição, o jornalista Andrei Meireles, da sucursal de ISTOÉ em Brasília, apurou que o presidente está apostando nesta mudança de humores econômicos para, a sua maneira, insuflar a candidatura de seu ministro da Fazenda.
E as previsões vêm melhorando bastante desde junho de 1999. Naquele momento, em meio ao rescaldo da desvalorização do real, a confiança das corporações internacionais, potenciais investidoras no mercado brasileiro, desabou. Uma influente empresa de consultoria global, a A. T. Kearney, detectou que os executivos daquelas companhias estavam redirecionando seus investimentos para lugares menos arriscados. Para eles, o Brasil somente não era pior que Indonésia e Rússia. Hoje, a mesma A. T. Kearney constata radical mudança nos humores internacionais: apenas 12% dos executivos por ela ouvidos não confiam no País como alternativa de investimento. Em junho de 1999, os pessimistas somavam desanimadores 40%. Mais importante ainda é a atração pelo potencial de mercado brasileiro apontada por 87% dos executivos, e quem demonstra mais interesse em investir por aqui é o setor de serviços. Ou seja, as privatizações deixaram de ser o grande filão.
Mas, o nosso Andrei Meireles também apurou que ao presidente Fernando Henrique Cardoso não desagradaria um terceiro mandato em uma eventual, árdua e potencialmente polêmica mudança de regime. Os tucanos gostariam muito de transferir seu ninho para o parlamentarismo. E, para ousar conseguir tal proeza, ao governo atual não bastariam os sucessos econômicos se seus frutos não forem devidamente repassados para a remendada e ultrajada área social. FHC continua muito mal nas pesquisas de opinião pública. Ainda há muito trabalho pela frente e muita bobagem a ser evitada. Ajudam pouco, por exemplo, a confusão armada com o indecente auxílio-moradia para juízes e a pressa em passar o teto do funcionalismo para R$ 11,5 mil, como nos mostram Eduardo Hollanda e Isabela Abdala na pág 29. E menos ainda a indicação de Francisco Gros, um banqueiro com um passado problemático, para gerenciar a dinheirama à disposição do BNDES, como nos revelam Liana Melo e Sônia Filgueiras na pág. 30.