Fala mansa, mas firme, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), provocou um maremoto no ninho tucano ao anunciar que vai deixar o cargo para tentar ser candidato a presidente, desafiando o prefeito e tucano José Serra, que não oficializa a candidatura, mas quer disputar com Lula novamente. O tom apimentado do novo Alckmin é apenas o aperitivo: ele bate de frente no governo petista, acusando-o de ineficiente. Diz que não vai desistir da guerra pela candidatura e que, se for eleito, promoverá um choque de gestão, lema que faz lembrar seu padrinho, o ex-governador Mário Covas (SP), que pregou em 1989 o “choque de capitalismo”, quando foi o primeiro tucano a se candidatar a presidente. Adepto da acupuntura e da medicina chinesa, Alckmin alfineta com força a política econômica ortodoxa que faz do Brasil campeão mundial dos juros.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. causou quase um tsunami no PSDB ao anunciar sua saída do governo de São Paulo para tentar candidatar-se a presidente.
Geraldo Alckmin

Geraldo Alckmin – Era óbvio eu ter feito esse anúncio. Quem não estiver fora do governo até 31 de março está inelegível.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. sempre foi tão discreto. Mudou de estilo?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não. Se quero ser candidato, digo isso claramente. Política deve
ser feita com franqueza.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Não haverá racha no PSDB, já que o prefeito José Serra também sonha ser candidato?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não. O PSDB tem uma tradição de bom entendimento.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Se o sr. não vencer, vai apoiar Serra?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Nenhum problema. Apoiarei quem o partido escolher. Por isso, acho que vou apoiar o Geraldo Alckmin (sorri).

ISTOÉ – ISTOÉ ? A disputa pode ir à convenção?
Geraldo Alckmin

Alckmin – A direção do PSDB vai decidir os critérios dessa escolha.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. não vai desistir?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O clima com Serra não está pesado?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não. Mas proponho também a candidatura do governador Aécio Neves (MG) para presidente.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Há quem diga que o sr. não teria firmeza como Serra para enfrentar Lula.
Geraldo Alckmin

Alckmin – Já enfrentei o PT no auge da onda vermelha de 2002 e ganhei o governo. Estou no oitavo mandato popular. Não ocupei um cargo público que não tenha sido voto popular.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Os adversários dizem que o sr. agora é picolé de chuchu com pimenta-malagueta…
Geraldo Alckmin

Alckmin – Eu levo na esportiva. O estado de permanente bom humor é uma das melhores provas de inteligência.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Por que seria bom para o Brasil tê-lo como presidente?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Porque o País precisa de um choque de gestão. O governo Lula gasta mal. Não é possível ter carga tributária de mais de 37% do PIB e não ter dinheiro para investir. A marca do nosso tempo é a velocidade da mudança. Se não fizermos as reformas, vamos ficar na lanterninha do crescimento: o Brasil é o penúltimo da América Latina, à frente do Haiti. Quando Juscelino Kubitschek usou a expressão “50 anos em 5”, sua mensagem era a urgência. Mais do que nunca, temos urgência.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Os candidatos sempre prometem reformas e depois não fazem.
Geraldo Alckmin

Alckmin – Em São Paulo, já fizemos e vamos mostrar ao País. Temos 11 anos de experiência de governo. Reduzimos impostos, melhoramos a qualidade do gasto público, o Estado aumentou a capacidade de investimento: temos neste ano R$ 9,1 bilhões. Existe um abismo na política entre os que falam e os que fazem. Somos da turma da mão na massa. O povo não quer discurso, quer trabalho. Nosso governo tem altíssima avaliação (68% de ótimo e bom).

ISTOÉ – ISTOÉ ? A sua visão do papel do Estado é mais liberal que a de Serra?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Eu não sou favorável ao laissez-faire, ao Estado mínimo. O Estado tem funções importantes, mas precisamos de eficiência. O governo federal é inoperante e perdulário. O governo deveria pelo menos não atrapalhar (a iniciativa privada). A taxa de juros reais, de 13%, é incompreensível.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Mas dá espaço para ter redução rápida?
Geraldo Alckmin

Alckmin – É óbvio! Rapidíssima. Ué, taxa de juros real no mundo é de 3%. O Brasil está na contramão do mundo, que tem juros baixos e câmbio alto. Nós temos juros altos e câmbio baixo.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O PT vai comparar seus quatro anos com os oito de FHC…
Geraldo Alckmin

Alckmin – Será um erro. É o farol voltado para trás. Lula deveria agradecer todos
os dias a FHC. O pouco resultado que o governo Lula conseguiu se deve às reformas do período FHC. Lula colheu os frutos dessas reformas e não fez as
que deveria fazer.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. não vê nada de positivo no governo Lula?
Geraldo Alckmin

Alckmin – O presidente Lula não merece um novo mandato. Enganou o povo com um projeto que não existia. É inoperante do ponto de vista de gestão e frouxo na questão ética. Há aspectos positivos, prova de maturidade, como a responsabilidade fiscal e a estabilidade da moeda. Mas isso não é objetivo, é meio para alcançar crescimento.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O crescimento econômico não garante combate à pobreza. E o governo Lula virá com a bandeira do Bolsa-Família na eleição.
Geraldo Alckmin

Alckmin – O Bolsa-Família é continuidade da rede de proteção social criada pelo governo FHC. Às vezes, a economia cresce e não se distribui renda. A questão central do debate nacional é a educação, o grande caminho para inclusão social. É preciso melhorar a qualidade da escola desde o ensino infantil, com aumento de horas-aula. Como já fazemos em São Paulo. Temos seis horas-aula por dia e vamos oferecer período integral para parte das escolas do ensino fundamental, com café da manhã, almoço e lanche de tarde para os alunos.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Em 2002, Lula falou na necessidade de criar dez milhões de empregos e o Serra, oito milhões. Se for candidato, prometeria quantos empregos?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Vou falar de crescimento econômico. O País precisa de um choque.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Mas o sr. não vai citar números?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não. É o máximo que puder.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Mas no governo FHC o Brasil cresceu menos de 3% em média…
Geraldo Alckmin

Alckmin – Mas enfrentou quatro crises internacionais.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. tem uma fórmula para sair dessa situação de juros altos?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não há fórmula mágica. Deve haver um leque de ações com a marca da eficiência. Se for eleito, no primeiro dia todos as reformas estarão prontas no Congresso: tributária, trabalhista, política, previdenciária.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Lula se vangloriou de ter quitado a dívida com o FMI.
Geraldo Alckmin

Alckmin – Nosso problema não é a dívida externa, mas a interna, que cresce puxada pela escandalosa taxa de juros.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. não arriscaria uma taxa de juros que acharia ser possível o País ter
Geraldo Alckmin

Alckmin – Infinitamente menor.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Então o sr. é crítico da política de Palocci?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Ela é errada, é um grande programa de concentração de renda. O governo Lula gasta R$ 10 bilhões com o Bolsa-Família e R$ 160 bilhões para pagar juros para rentistas.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Como o sr. definiria o candidato anti-Lula?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Não quero fazer campanha anti-Lula nem anti-PT. Ninguém se elege dessa forma.

ISTOÉ – ISTOÉ ? A convocação extraordinária do Congresso e a ausência dos parlamentares no batente, mesmo embolsando muito dinheiro, desgastaram ainda mais a imagem dos políticos. O que diria ao cidadão desiludido que já pensa em votar nulo?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Esse desencanto é perigoso. Pode cair na descrença da democracia. O grande risco que temos hoje é o voto branco e o nulo. É uma forma de protesto, mas os deputados vão ser eleitos do mesmo jeito.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O PSDB governou oito anos. Não seria justo dar chance ao PT de governar mais quatro?
Geraldo Alckmin

Alckmin – O Brasil não pode mais perder tempo. Lula não merece nem um dia a mais, quanto mais quatro anos.

ISTOÉ – ISTOÉ ? E o que o PSDB pode trazer de novo?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Um choque de moralidade. Um novo conceito de ética: a eficiência ao governar. Ética não significa somente não roubar e não deixar roubar. Isso é obrigação.

ISTOÉ – ISTOÉ ? A que o sr. atribui sua baixa rejeição nas pesquisas e a aprovação maciça de seu governo?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Eu represento uma nova política: menos bla-bla-blá e bravata, mais eficiência e trabalho. Covas dizia que popularidade você ganha e perde, vai e volta. Se você perder a credibilidade, a popularidade não volta mais.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Dizem que o sr. não tem carisma, daí o apelido picolé de chuchu. O sr. se considera carismático?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Os carismáticos perderam a eleição e eu tive mais de 12 milhões de votos. Eu não sou espalhafatoso. A eleição hoje é muito eletrônica, será um embate de personalidades. As propostas serão muito parecidas. O voto é decidido por um conjunto de fatores que leva o eleitor a um sentimento de empatia: a percepção de que dá para confiar no candidato.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. é pouco conhecido no País. Isso não atrapalha o seu objetivo de ser candidato?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Com os meios de comunicação você rapidamente fica conhecido. Pesquisa eleitoral hoje é retrato da última eleição. As grandes mudanças ocorrem depois da parada do 7 de setembro. Começa a eleição com a propaganda eleitoral de rádio e tevê. Como diria Didi, “treno é treno, jogo é jogo”. No plebiscito do desarmamento, até 20 dias antes todo mundo achava que ia ganhar o sim. Na hora em que o eleitor se ligou no fato, virou tudo.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O que é mais importante em pesquisa: aprovação ou rejeição?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Aprovação é importante no primeiro turno. No segundo turno, rejeição alta é fatal. Maluf sempre saía em primeiro lugar e no segundo turno não se elegia.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O presidente Lula perdeu?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Nada definitivo, mas a perda de confiança do povo é grande. Acho até que Lula é uma boa pessoa, mas seu governo é lamentável. Tenho profundo respeito por sua história de vida.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O presidente Lula perdeu?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Nada definitivo, mas a perda de confiança do povo é grande. Acho até que Lula é uma boa pessoa, mas seu governo é lamentável. Tenho profundo respeito por sua história de vida.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Há uma forte crítica sobre a paulistização da política. Por que um nordestino, por exemplo, votaria no paulista Geraldo Alckmin?
Geraldo Alckmin

Alckmin – Porque o Nordeste foi o maior prejudicado com a perda da capacidade de investimento do governo federal. Se eu for eleito, meu governo vai recuperar a capacidade de investimento e terá uma forte política de desenvolvimento regional. Não vou fazer como o PT, que implantou o “Paulistério”. Vou fazer o “Brasilério”. Terei uma equipe com uma representação mais equilibrada do conjunto do País. Nasci em São Paulo, mas minha família é baiana. Quando a família Alckmin chegou da Península Ibérica, foi para Carinhanha, no Vale do São Francisco (BA). O oeste da Bahia está cheio de Alckmins. É a mesma família de José Maria Alkmin (um dos melhores amigos de JK e seu ex-ministro da Fazenda), que depois foi para o norte de Minas.

ISTOÉ – ISTOÉ ? O sr. continua tendo problemas, como os últimos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), que mataram policiais civis.
Geraldo Alckmin

Alckmin – Todos os índices de criminalidade em São Paulo estão em queda. A luta contra o crime é interminável. Em São Paulo não tem espaço para bandido. Aqui, bandido criou fama, tá na cadeia. Construímos 120 prisões e temos as únicas penitenciárias de segurança máxima do Brasil. Mais de 30 presos de alta periculosidade passaram por aqui.

ISTOÉ – ISTOÉ ? Por que um eleitor de Lula votaria no sr.? Como o sr. conseguiria tirar o voto?
Geraldo Alckmin

Alckmin – O povo vai votar na mudança e eu encarno isso: pé no acelerador.