25/01/2006 - 10:00
Fala mansa, mas firme, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), provocou um maremoto no ninho tucano ao anunciar que vai deixar o cargo para tentar ser candidato a presidente, desafiando o prefeito e tucano José Serra, que não oficializa a candidatura, mas quer disputar com Lula novamente. O tom apimentado do novo Alckmin é apenas o aperitivo: ele bate de frente no governo petista, acusando-o de ineficiente. Diz que não vai desistir da guerra pela candidatura e que, se for eleito, promoverá um choque de gestão, lema que faz lembrar seu padrinho, o ex-governador Mário Covas (SP), que pregou em 1989 o “choque de capitalismo”, quando foi o primeiro tucano a se candidatar a presidente. Adepto da acupuntura e da medicina chinesa, Alckmin alfineta com força a política econômica ortodoxa que faz do Brasil campeão mundial dos juros.
Geraldo Alckmin – Era óbvio eu ter feito esse anúncio. Quem não estiver fora do governo até 31 de março está inelegível.
Alckmin – Não. Se quero ser candidato, digo isso claramente. Política deve
ser feita com franqueza.
Alckmin – Não. O PSDB tem uma tradição de bom entendimento.
Alckmin – Nenhum problema. Apoiarei quem o partido escolher. Por isso, acho que vou apoiar o Geraldo Alckmin (sorri).
Alckmin – A direção do PSDB vai decidir os critérios dessa escolha.
Alckmin – Não.
Alckmin – Não. Mas proponho também a candidatura do governador Aécio Neves (MG) para presidente.
Alckmin – Já enfrentei o PT no auge da onda vermelha de 2002 e ganhei o governo. Estou no oitavo mandato popular. Não ocupei um cargo público que não tenha sido voto popular.
Alckmin – Eu levo na esportiva. O estado de permanente bom humor é uma das melhores provas de inteligência.
Alckmin – Porque o País precisa de um choque de gestão. O governo Lula gasta mal. Não é possível ter carga tributária de mais de 37% do PIB e não ter dinheiro para investir. A marca do nosso tempo é a velocidade da mudança. Se não fizermos as reformas, vamos ficar na lanterninha do crescimento: o Brasil é o penúltimo da América Latina, à frente do Haiti. Quando Juscelino Kubitschek usou a expressão “50 anos em 5”, sua mensagem era a urgência. Mais do que nunca, temos urgência.
Alckmin – Em São Paulo, já fizemos e vamos mostrar ao País. Temos 11 anos de experiência de governo. Reduzimos impostos, melhoramos a qualidade do gasto público, o Estado aumentou a capacidade de investimento: temos neste ano R$ 9,1 bilhões. Existe um abismo na política entre os que falam e os que fazem. Somos da turma da mão na massa. O povo não quer discurso, quer trabalho. Nosso governo tem altíssima avaliação (68% de ótimo e bom).
Alckmin – Eu não sou favorável ao laissez-faire, ao Estado mínimo. O Estado tem funções importantes, mas precisamos de eficiência. O governo federal é inoperante e perdulário. O governo deveria pelo menos não atrapalhar (a iniciativa privada). A taxa de juros reais, de 13%, é incompreensível.
Alckmin – É óbvio! Rapidíssima. Ué, taxa de juros real no mundo é de 3%. O Brasil está na contramão do mundo, que tem juros baixos e câmbio alto. Nós temos juros altos e câmbio baixo.
Alckmin – Será um erro. É o farol voltado para trás. Lula deveria agradecer todos
os dias a FHC. O pouco resultado que o governo Lula conseguiu se deve às reformas do período FHC. Lula colheu os frutos dessas reformas e não fez as
que deveria fazer.
Alckmin – O presidente Lula não merece um novo mandato. Enganou o povo com um projeto que não existia. É inoperante do ponto de vista de gestão e frouxo na questão ética. Há aspectos positivos, prova de maturidade, como a responsabilidade fiscal e a estabilidade da moeda. Mas isso não é objetivo, é meio para alcançar crescimento.
Alckmin – O Bolsa-Família é continuidade da rede de proteção social criada pelo governo FHC. Às vezes, a economia cresce e não se distribui renda. A questão central do debate nacional é a educação, o grande caminho para inclusão social. É preciso melhorar a qualidade da escola desde o ensino infantil, com aumento de horas-aula. Como já fazemos em São Paulo. Temos seis horas-aula por dia e vamos oferecer período integral para parte das escolas do ensino fundamental, com café da manhã, almoço e lanche de tarde para os alunos.
Alckmin – Vou falar de crescimento econômico. O País precisa de um choque.
Alckmin – Não. É o máximo que puder.
Alckmin – Mas enfrentou quatro crises internacionais.
Alckmin – Não há fórmula mágica. Deve haver um leque de ações com a marca da eficiência. Se for eleito, no primeiro dia todos as reformas estarão prontas no Congresso: tributária, trabalhista, política, previdenciária.
Alckmin – Nosso problema não é a dívida externa, mas a interna, que cresce puxada pela escandalosa taxa de juros.
Alckmin – Infinitamente menor.
Alckmin – Ela é errada, é um grande programa de concentração de renda. O governo Lula gasta R$ 10 bilhões com o Bolsa-Família e R$ 160 bilhões para pagar juros para rentistas.
Alckmin – Não quero fazer campanha anti-Lula nem anti-PT. Ninguém se elege dessa forma.
Alckmin – Esse desencanto é perigoso. Pode cair na descrença da democracia. O grande risco que temos hoje é o voto branco e o nulo. É uma forma de protesto, mas os deputados vão ser eleitos do mesmo jeito.
Alckmin – O Brasil não pode mais perder tempo. Lula não merece nem um dia a mais, quanto mais quatro anos.
Alckmin – Um choque de moralidade. Um novo conceito de ética: a eficiência ao governar. Ética não significa somente não roubar e não deixar roubar. Isso é obrigação.
Alckmin – Eu represento uma nova política: menos bla-bla-blá e bravata, mais eficiência e trabalho. Covas dizia que popularidade você ganha e perde, vai e volta. Se você perder a credibilidade, a popularidade não volta mais.
Alckmin – Os carismáticos perderam a eleição e eu tive mais de 12 milhões de votos. Eu não sou espalhafatoso. A eleição hoje é muito eletrônica, será um embate de personalidades. As propostas serão muito parecidas. O voto é decidido por um conjunto de fatores que leva o eleitor a um sentimento de empatia: a percepção de que dá para confiar no candidato.
Alckmin – Com os meios de comunicação você rapidamente fica conhecido. Pesquisa eleitoral hoje é retrato da última eleição. As grandes mudanças ocorrem depois da parada do 7 de setembro. Começa a eleição com a propaganda eleitoral de rádio e tevê. Como diria Didi, “treno é treno, jogo é jogo”. No plebiscito do desarmamento, até 20 dias antes todo mundo achava que ia ganhar o sim. Na hora em que o eleitor se ligou no fato, virou tudo.
Alckmin – Aprovação é importante no primeiro turno. No segundo turno, rejeição alta é fatal. Maluf sempre saía em primeiro lugar e no segundo turno não se elegia.
Alckmin – Nada definitivo, mas a perda de confiança do povo é grande. Acho até que Lula é uma boa pessoa, mas seu governo é lamentável. Tenho profundo respeito por sua história de vida.
Alckmin – Nada definitivo, mas a perda de confiança do povo é grande. Acho até que Lula é uma boa pessoa, mas seu governo é lamentável. Tenho profundo respeito por sua história de vida.
Alckmin – Porque o Nordeste foi o maior prejudicado com a perda da capacidade de investimento do governo federal. Se eu for eleito, meu governo vai recuperar a capacidade de investimento e terá uma forte política de desenvolvimento regional. Não vou fazer como o PT, que implantou o “Paulistério”. Vou fazer o “Brasilério”. Terei uma equipe com uma representação mais equilibrada do conjunto do País. Nasci em São Paulo, mas minha família é baiana. Quando a família Alckmin chegou da Península Ibérica, foi para Carinhanha, no Vale do São Francisco (BA). O oeste da Bahia está cheio de Alckmins. É a mesma família de José Maria Alkmin (um dos melhores amigos de JK e seu ex-ministro da Fazenda), que depois foi para o norte de Minas.
Alckmin – Todos os índices de criminalidade em São Paulo estão em queda. A luta contra o crime é interminável. Em São Paulo não tem espaço para bandido. Aqui, bandido criou fama, tá na cadeia. Construímos 120 prisões e temos as únicas penitenciárias de segurança máxima do Brasil. Mais de 30 presos de alta periculosidade passaram por aqui.
Alckmin – O povo vai votar na mudança e eu encarno isso: pé no acelerador.