01/03/2000 - 10:00
Velha, coberta de sarnas e doente, a cadela bassê Naninha foi achada presa com trapos de pano a um poste de luz, na periferia do Rio de Janeiro. Seu destino seria o sacrifício, mas o animal foi salvo pela tecnologia. O casal que a encontrou abandonada publicou um anúncio de doação no endereço Dog’s Times (www.dogtimes.com.br), que oferece correio sentimental para cães na fase de procriação. Naninha foi adotada pela aposentada carioca Luisa Migon, 50 anos, e agora é tratada a pão-de-ló, além de fazer tratamento com uma veterinária homeopata. “Vi a foto da Naninha na Internet e fiquei com pena da carinha triste dela”, diz Luisa, que divide seu tempo entre outros cinco cães e a rede mundial de computadores. Quem acha que Internet serve só para bater papo, mandar e-mails e fazer compras pode mudar de idéia. Estamos em plena era da prestação dos serviços on line, que proliferam à velocidade da luz. Muitas ofertas são inusitadas, como o endereço que salvou a vida de Naninha. Outras atividades começam a migrar para a rede. Hoje é possível encontrar desde sites para reclamar ações de órgãos públicos até dicas de especialistas sobre sexo, educação, cuidados com o bebê, pendengas jurídicas e ofertas de seguro. Essa tendência traz pelo menos duas vantagens ao consumidor: comodidade e economia de tempo para pesquisar preços e contratar serviços. Tudo isso pode ser feito pelo computador, no horário que lhe for mais conveniente, sem precisar botar os pés fora de casa. Quem já perdeu documentos conhece a burocracia que é obrigado a enfrentar para fazer o boletim de ocorrência policial. Gaúchos e paulistas já conseguem evitar essa dor de cabeça usando uma modalidade de B.O. eletrônico. Desde final de 1998, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul (www.policiacivil.rs.gov.br) aceita comunicados de perda de documentos pelo PC. Ali também podem-se registrar ocorrências de crimes contra o consumidor e casos de ameaça e perturbação de sossego. Desde janeiro deste ano, a polícia paulista (www.policia-civ.sp. gov.br) recebe em média 100 ocorrências diárias de furto de automóveis, desaparecimento de pessoas, perda e extravio de documentos. As queixas formalizadas no computador têm o mesmo valor dos boletins de ocorrência em papel, mas casos graves ainda exigem a presença na delegacia. O paulistano que quiser cobrar a poda de árvores, a limpeza de bueiros ou a eliminação de buracos nas ruas também pode reclamar pela Internet, em vez de ficar pendurado no telefone à espera de atendimento dos órgãos públicos. Na página da prefeitura (https://portal.prodam. sp.gov.br) é possível solicitar mais de 300 serviços públicos – depois, é só rezar para a prefeitura cumprir sua parte.
Casamento virtual – Os serviços via Internet não estão restritos às grandes capitais. Nem são reservados apenas a assuntos desagradáveis. Quem está prestes a juntar os trapos com sua cara-metade pode encontrar no site Casamento & Cia (www.casamentoecia.com.br) informações úteis para evitar a tensão da véspera do casório. O endereço dá ajuda prática aos casais, como a localização de cartórios e sugestões para montar o enxoval. A idéia de criar o site veio de uma necessidade real. “Quando me casei, tive dificuldade para conseguir as informações que minha mulher queria”, diz Pedro Luiz Gouveia, dono da página que fornece até uma relação de presentes para o chá-bar. A empresa de Gouveia oferece transmissão ao vivo do casamento, pela Internet. É uma solução para os pombinhos que tenham parentes distantes e estejam dispostos a gastar entre R$ 5 mil e R$ 9 mil. Depois do casamento (e antes, por que não?), nada melhor do que uma orientação sexual. Pois é isso que o Guia do Sexo (www.guiadosexo.com.br) se propõe a fazer. Além de artigos sobre o assunto, a página calcula o período fértil da mulher por meio de uma “tabelinha” digital. E se não der certo? Bem, aí o casal pode virar freguês do Guia do Bebê (www.guiadobebe.com.br), que dá dicas aos pais de primeira viagem. Entre noções básicas sobre amamentação e troca de fraldas, o site montou uma caderneta de vacinação virtual. Quando chega a hora de enfrentar a agulha ou a gotinha, a mamãe recebe um e-mail do guia eletrônico da criança.
Avaliação cardíaca – Estressado com a vida de casado e bebê novo em casa? Que tal um teste para avaliar como anda seu coração? Basta entrar no endereço da Sociedade Brasileira de Cardiologia (www.cardiol.br) e tirar dúvidas com especialistas no serviço Coração On-line. O coração vai bem, mas o casamento vai mal. A alternativa é apelar para a consultoria jurídica do Jurisnet (www.jurisnet.com.br), que trabalha com sete escritórios de advocacia. Para contratar um advogado, é preciso enviar a dúvida por e-mail e aguardar uma resposta com o valor dos honorários. Se precisar de empréstimo para cobrir as despesas, a solução é contatar a central virtual de crédito Easycred (www.easycred.com.br). Ali, o internauta obtém informações sobre diversas formas de crédito, calcula o índice de endividamento e o valor da prestação em vários tipos de empréstimos. Na mesma modalidade há o E-seguros (www. eseguros.com.br), que permite orçar, sem compromisso, o seguro de seu veículo. “Optei pela Internet para segurar meu carro por causa da comodidade e do custo reduzido”, diz Rubens Moreira Bastos, que trabalha numa seguradora concorrente. Bastos diz que em menos de meia hora fez orçamento, fechou negócio e marcou a vistoria de seu Fiat Uno ELX. Metade dos internautas brasileiros não pensa em economizar quando o assunto é educação, segundo pesquisa do instituto Ibope e do site de buscas Cadê?. Há várias opções de cursos na Internet. Engana-se quem pensa que é preciso muito dinheiro para criar um bom site de educação. Que o diga o professor Hildebrando de André, que oferece, de graça, curso de reciclagem (www.hildebrando.com.br) para profissionais em dificuldades com a Flor do Lácio. “O sinal de alfabetização dos tempos de hoje é conhecer bem a Internet”, afirma ele. Os “analfabetos virtuais” não estão de fora dessa onda. Mesmo quem não tem e-mail pode receber mensagens escritas num PC. Os Correios (www. correiosonline.com.br) enviam telegramas e cartas pela rede, pelo preço de uma carta registrada, R$ 1,25. A mensagem é escrita como se fosse um e-mail. Em vez de seguir eletronicamente, ela é impressa, selada, fechada e entregue pelo bom e velho carteiro.