01/03/2000 - 10:00
Discotecas estão para a música assim como os restaurantes estão para a comida, certo? Mais ou menos. Na verdade, essa regrinha de três já não vale tanto. A música e a dança não são mais privilégio de boates e night clubs. Coreografias malucas, malabarismos e até musicais da Broadway passam a rechear o menu de alguns restaurantes brasileiros. E o melhor é que esses shows são promovidos pelos próprios garçons. Inaugurado em setembro do ano passado, o paulista Brooklin Restaurant é o retrato bem-acabado dessa nova mania de unir diversão à comilança. A cada 20 minutos, um grupo de garçons da casa enche o peito, abre a boca e bota pra quebrar: eles encenam e cantam músicas famosas de espetáculos da Broadway e hits de jazz e blues. “Contratamos atores e cantores profissionais e os ensinamos a servir”, explica Gabriela Diamante, diretora cênica e artística do Brooklin.
A idéia pegou tanto que para ir ao restaurante é preciso amargar oito dias na fila de espera. Mais. A casa conquistou um público exigente, como o crítico de cinema, Rubens Ewald Filho, verdadeiro fã da Broadway. “Gosto muito da comida, mas venho ao restaurante principalmente pela qualidade do espetáculo dos garçons”, diz o crítico. “Além disso, é importante que pessoas talentosas como essas tenham espaço. O Brasil tem muito talento, mas raramente mostra isso”, completa.
Ele tem razão. O restaurante nos moldes do Brooklin geralmente vem de fora. O primeiro “restaurante-entretenimento” foi criado nos Estados Unidos há mais de 70 anos, por um italiano chamado Adolpho Mariani. E, até hoje, é uma das cantinas mais famosas em todo o mundo. Chama-se Asti e fica no Village, um dos bairros mais descolados de Nova York. Seu atrativo: árias de óperas famosas cantadas pelos garçons e barmen da casa. O criador e responsável pelo Brooklin Restaurant, o empresário Telmo Carvalho e Silva, não nega a influência do Asti na concepção do seu trabalho. “A principal diferença entre os dois restaurantes é que os garçons do Brooklin além de cantar, dançam e atuam. Graças a essa receita, a casa vive cheia”, diz Carvalho e Silva.
Mas esse sucesso não é privilégio apenas do Brooklin. Uma pizzaria divertida chamada Giulia’s também está arrasando quarteirões. Com três instalações na Grande São Paulo (uma em Guarulhos, outra em São Bernardo e a terceira em Santo André), além de um rodízio de pizzas, a Giulia’s investiu numa palhaçada diferente. Os garçons da pizzaria usam chapéus grandes e coloridos e dançam coreografias divertidíssimas. “Durante a noite, eles dançam o tchan, a tarantela e outras músicas da moda”, explica Reinaldo Abramovay, sócio do estabelecimento.
Chapéus coloridos e roupas esdrúxulas também compõem o visual de garçons-palhaços de outro “restaurante-diversão”, o Friday’s – primeira casa brasileira a apostar no entretenimento, em outubro de 1995. Na verdade, o “nome completo” do restaurante é T.G.I. Fryday’s (abreviação do inglês para “Thanks God it is Friday’s”), que em português que dizer “Graças a Deus, é sexta-feira”. Esse slogan expressa bem o espírito da casa. A sensação para quem entra no restaurante pela primeira vez é de estar numa lanchonete nos Estados Unidos, fazendo festa, numa eterna sexta-feira. Isso porque o Friday’s é um franchising americano que nasceu em 1965 e hoje tem mais de 500 filiais espalhadas pelo mundo. Esse “american way of life” é uma espécie de força-motriz para as atrações da casa. “Os barmen fazem malabarismo com as garrafas como nos filmes americanos e jogam copos com drinques coloridos de um lado para o outro”, explica Fernanda Freire, gerente de uma das filiais de São Paulo.
Parabéns – Mas a principal atração da casa não está no malabarismo dos barmen nem tão pouco nos coloridos dos chapéus e buttons dos garçons. Está, acima de tudo, nos “parabéns” performáticos que os atendentes da casa promovem toda vez que sabem que alguém faz aniversário. A estudante Márcia Tabacow foi uma das clientes pegas de surpresa. Ela acabou sendo obrigada a subir na cadeira e mexer os quadris ao som da música de Vini. “Quase morri de vergonha. Achei muito engraçado, mas no próximo aniversário vou fugir daqui”, avisa Márcia. Mesmo que ela fuja, a casa vai continuar cheia. Afinal, quem quiser pregar uma peça no amigo aniversariante não encontrará lugar melhor.
A idéia da performance à la carte está migrando também para o Rio. O recém-inaugurado Bar d’hôtel, no Leblon, contratou o host Luiz Fernando para receber os clientes com diversão. “Faço piadas e dublagens”, diz. Não bastasse a brincadeira, a proprietária, Danielle Dahoui, faz questão de manter um clima caseiro no lugar. A decoração é feita com seus objetos pessoais. Pelo visto, sair para jantar fora virou quase uma balada.