25/08/1999 - 10:00
O poder deles é capaz de modificar a vida de milhares de pessoas. Suas decisões podem melhorar o bem-estar de populações ou deixar nações inteiras desamparadas. Esses homens, cujas teorias têm uma enorme presença em países onde as crises são mais permanentes do que temporárias, são os economistas. Há uma boa oportunidade de conhecer alguns dos espécimes nacionais em Conversas com economistas brasileiros II (Editora 34, 424 págs., R$ 35), uma coletânea de entrevistas inéditas com 12 deles. De autoria de dois economistas, Guido Mantega e José Márcio do Rego, ambos professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, o livro é um extenso documento do pensamento econômico contemporâneo. Sequência da obra, publicada em 1996, que reuniu destaques de gerações anteriores, como Mário Henrique Simonsen, Roberto Campos e Celso Furtado, a atual obra mistura trechos sobre a história da formação desses profissionais com suas confissões sobre o período em que passaram pelo governo – 10 dos 12 tiveram cargos públicos –, além de análises sobre teorias econômicas e os planos de estabilização, como o Cruzado e o Real.
"O livro tem a vantagem de trazer a público o depoimento de pessoas que estavam no governo. Em alguns casos, elas não podiam dizer o que agora já pode ser publicado", diz Mantega. O caso mais ilustrativo é o do hoje ministro da Saúde, José Serra, que contou sua versão sobre o Plano Real aos autores, no final de 1997, quando estava fora do governo depois de ter participado como membro da equipe econômica. Num tom direto, Serra aponta o que considera os erros da sobrevalorização do câmbio, o principal pilar de sustentação do Plano Real nos quatros anos e meio em que vigorou. "O que aconteceu não corrobora nem invalida necessariamente os pontos de vista que estão no livro", diz hoje o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e principal mentor da política cambial até a desvalorização da moeda em janeiro. "As divergências continuam mais ou menos no mesmo lugar em que estavam. Você pode dizer: foi a política cambial que fracassou ou, pelo contrário, seguiu-se a alternativa dos críticos (de desvalorizar o real) e deu errado. Cabe ao leitor decidir", declara o professor da PUC do Rio. Pelo visto, o debate continua em aberto.