25/08/1999 - 10:00
Linda, rica e famosa, Naomi Campbell, 29 anos, é um diabo. Primeira modelo negra da história da moda a estampar as capas da Vogue inglesa e francesa, ela tem fama de temperamental. Já socou um funcionário da agência Elite Models (não por acaso, sua ex-agência), bateu em fotógrafos e perseguiu modelos. Até agora, no entanto, Naomi vem contrariando as expectativas em torno de seus humores. Convidada para desfilar para a Cia Marítima, confecção brasileira de moda praia, ela entra na passarela neste domingo 22, às 20h, no evento que faz parte da Semana BarraShopping de Estilo. E parece de bem com a vida. Suportou com paciência até a demora do consulado brasileiro em Nairobi em liberar seu visto de trabalho e, mediante um cachê calculado em US$ 70 mil, dispôs-se a interromper as férias para desfilar no Rio.
Sua lista de exigências é modesta, comparada à de outras celebridades. Naomi, que desembarca da primeira classe da British Airways no sábado à noite, pediu para ficar no Hotel Copacabana Palace, onde esteve quando veio ao Brasil em 1994. Queria um carro com vidros escuros, mas como isso não é permitido pela legislação brasileira, vai ganhar um Mercedes preto com cortininhas. A tiracolo, vai trazer uma amiga italiana e o empresário. Dois parrudos seguranças a seguirão e montarão guarda à porta da sua suíte, enquanto ela dorme.
O bom humor de Naomi deixou aliviada Fabiana Kherlakian – sócia da Office, agência que "importou" a modelo e assina a direção geral do desfile Além disso, ela não fez nenhuma restrição às minúsculas calcinhas dos biquínis brasileiros. "As modelos internacionais aceitam até desfilar de topless, mas detestam mostrar o bumbum", diverte-se Fabiana. Naomi vai fazer quatro entradas no desfile. Na primeira, mostra um exíguo biquíni de lacinho nas laterais e sutiã meia-taça com estampa tropical, com coqueiros e uma casa beira-mar. Retorna em um cavadíssimo maiô com estampa de ondas multicoloridas. O segundo biquíni é zebrado, com sutiã de cortininha. No final, junta-se às outras modelos com as cores do verão, branco e prata.
Ela terá de guardar um pouco de energia porque, à noite, 100 ilustres convidados a esperam animadíssimos numa festa na casa noturna People, organizada a seu pedido. Estarão lá o casal Claudia Raia e Edson Celulari, Eduardo Moscovis, Astrid Monteiro de Carvalho e, é claro, Narciza Tamborindeguy.
Naomi está uma doçura, mas isso não é nenhuma garantia. Seus chiliques são tão famosos quanto seu corpo escultural. Em 1994, mal desembarcou no Rio e já distribuiu bolsadas em um fotógrafo que insistia em clicar sua chegada. Teve também uma discussão com o bailarino Joaquin Cortès (seu ex-namorado) e foi parar no hospital por causa de uma overdose de barbitúricos. Ela jamais confirmou o episódio. E, dizem os amigos, Naomi não é o tipo de moça que se entrega ao amor.
Filha de uma dançarina, a jamaicana Valerie Morris, Naomi foi criada pelos avós, enquanto a mãe viajava para as turnês. Sobre o pai, a modelo simplesmente não fala. Nascida no dia 22 de maio de 1970, em Londres, Naomi começou a estudar dicção aos cinco anos, na mesma escola do cantor Phil Collins. Fez umas pontas nos videoclipes It’s a miracle, de Boy George (de quem era fã), e em The wall, de Pink Floyd.
Aos 15 anos, foi depois da escola a uma loja em Covent Garden comprar sapatos de sapateado. Assim que entrou na loja, de uniforme azul-marinho e meias soquete, chamou a atenção de uma caça-talentos. Apenas três meses depois de fechar contrato com a agente Beth Boldt, Naomi foi para os EUA fazer o primeiro trabalho para a revista Elle.
Apesar da estonteante beleza, de ser um dos nomes mais importantes da história da moda e de pertencer ao seleto grupo das supermodelos, ao lado de Linda Evangelista, Cindy Crawford e Christy Turlington, Naomi não relaxa. Ela não suporta concorrência. Uma vez se engalfinhou com uma mulher em frente a um clube noturno nova-iorquino, porque a moça estava de paquera com o mesmo homem que ela desejava. Em outra ocasião, forçou a demissão de uma jovem modelo apenas porque a moça era muito parecida com ela.
"No início deste ano, desfilei duas vezes com Naomi. Ela é muito respeitada. Enquanto todas as modelos são obrigadas a comparecer duas horas antes de os desfiles começarem, ela é a única que pode chegar na hora. E não é das mais simpáticas…", conta a brasileira Ana Cláudia Michls, 18 anos.
Em compensação, quando gosta de alguém, é de verdade. Durante sua rápida passagem pelo Brasil, Naomi já avisou que quer a companhia da amiga e ex-modelo Beth Lago, com quem trabalhou. Vai tentar arranjar um tempo na sua atribulada agenda apenas para ficar um pouco a sós com Beth e colocar as fofocas em dia.
Em todas – Fora das passarelas, Naomi já fez algumas incursões no universo da música, em 1994, com o disco Babywoman, lançado pela Epic Records. Foi mal recebida pela crítica, mas a canção La, la, la love song, com o cantor japonês Toshi, alcançou o primeiro lugar nas paradas de sucesso do Japão. A história da sua vida rendeu dois livros biográficos, Swan, que ela escreveu com uma ghost-writer, e Naomi – the rise of the girl from nowhere, da jornalista inglesa Lesley-Ann Jones.
Ela vem se esforçando para comportar-se bem. O dinheiro da venda de Naomi, que traz fotos da modelo assinadas por Steven Meisel, Richard Avedon, Ellen Von Unwerth e Peter Lindbergh, foi doado para a Cruz Vermelha. E a modelo também realizou um desfile na África do Sul para levantar fundos para a Fundação Nelson Mandela, que cuida de crianças carentes.
No cinema, ela participou do filme Girl 6, de Spike Lee, e Invasão de privacidade, entre outros. Agora, Naomi se prepara para um novo filme. E que desafio: em outubro, vai rodar Destination Verna. Dirigido por Michelangelo Antonioni, o filme inglês será rodado na Itália e a modelo irá contracenar com ninguém menos que a atriz Sophia Loren. Na segunda-feira 23, Naomi vai embora. Até lá, espera-se que o sol e a paisagem carioca mantenham intocadas as reservas de docilidade de miss Campbell. Ou…