25/01/2006 - 10:00
São visões diferentes de uma situação vivida em uma única região, o Oriente Médio. Enquanto Free zone (Free Zone, França/Israel/ Espanha/Bélgica, 2005), em cartaz nacional, dá voz aos desenraizados, Paradise now (Paradise now, França/Alemanha/Holanda/Israel, 2005), que estréia na sexta-feira 27, focaliza os sem-futuro. No primeiro filme, dirigido pelo badalado diretor israelense Amos Gitai, uma americana, Rebecca (Natalie Portman), se aventura pela zona de livre comércio, situada na fronteira entre a Jordânia, a Síria, o Iraque e a Arábia Saudita, acompanhada por uma judia, Hanna (Hanna Laslo), e uma palestina, Leila (Hiam Abbass). Na outra produção, que acaba de ganhar o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, Hany Abu-Assad, diretor palestino baseado na Holanda, mostra a véspera do sacrifício de dois amigos de infância, Said (Kais Nashee) e Khaled (Ali Suliman), escolhidos para serem mártires – eufemismo para homens-bomba.
Contando com uma ponta da atriz espanhola Carmem Maura, dos primeiros filme de Almodóvar, Free zone abre com um primeiro plano de dez minutos ininterruptos mostrando Natalie Portman em lágrimas diante do Muro das Lamentações. Seu personagem é uma mulher desiludida após o rompimento com o parceiro israelense. A motorista do táxi que a leva para todo canto, Hanna, trabalha pelo marido ferido. Leila foi abandonada pelo homem que deve dinheiro para Hanna. Originalmente escrito para três homens, o filme adquiriu outro significado ao transformar a solidão feminina em metáfora do isolamento e da incompreensão enfrentada e partilhada pelos povos da área.
Sentimento similar ao de Said e Khaled, jovens palestinos que vivem em Nablus, assentamento da Cisjordânia próximo a Tel-Aviv. Entre pequenos bicos na oficina mecânica de um parente, baforadas de narguilé e o som pop das rádios árabes, a dupla aguarda seu momento. O momento de se explodirem juntos, como desejaram, levando consigo o maior número possível de soldades israelenses. Mas no dia algo dá errado na fronteira e os dois se perdem um do outro. Sós diante dessa situação-limite, são assolados pelas contradições terríveis de sua existência. Em uma cena memorável, Khaled imita Robert De Niro em Taxi driver, ameaçando detonar a bomba amarrada ao peito. Said não tem ilusões. Filho de um homem executado como colaborador de Israel, o jovem se pergunta: “Como pode invasores indesejados se apresentarem como vítimas?” No papel da mãe viúva de Said aparece a bela e enigmática Hiam Abass, a Leila do outro filme e que também pode ser vista em Munique, de Steven Spielberg.