26/09/2007 - 10:00
O assunto do momento é a expansão da classe média baixa. Abundância de crédito, juros mais baixos, prazos de parcelamento a perder de vista. Todos os holofotes estão voltados para ela e tudo conspira para que ela gaste cada vez mais. No entanto, essa parcela da população que desperta para o consumo não apareceu subitamente. Muitos abandonaram os últimos degraus da discrepante pirâmide econômica brasileira e subiram em direção ao centro. De acordo com o levantamento feito pelo Centro de Políticas Sociais da FGV e divulgado na quarta-feira 19, o número de brasileiros considerados miseráveis (com renda per capita inferior a R$ 121) teve uma queda de 27,7% entre 2003 e 2006. Outra pesquisa divulgada na semana passada pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) afirma que a pobreza, caracterizada por famílias com renda per capita inferior a R$ 266, diminuiu 26,9% no mesmo período. Apesar da metodologia diferente, as duas análises tomam como base os dados colhidos na última Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), em 2006. Ambas atestam que 5,9 milhões de pessoas abandonaram a linha da miséria no ano passado.
Marcelo Néri, economista e idealizador da pesquisa da FGV, atribui o surgimento desse novo grupo a basicamente três fatores: mais postos de trabalho, salário mínimo maior e Bolsa Família. “A conjuntura do País também ajudou. Houve a estabilização da economia no Plano Real e o governo Lula teve a ousadia de expandir os programas sociais”, pontua Néri. Nos dois mandatos do governo FHC, a redução da miséria, segundo Néri, foi de 24,3%, enquanto somente no primeiro mandato petista chegou a 27,7%. Em 2006, eram considerados miseráveis 19,31% de brasileiros, ou seja, 49 milhões de pessoas. O que ainda está longe de ser pouco. Mas o aumento do mínimo não é visto como medida sustentável para continuar a reduzir a pobreza. O economista vê no Bolsa Família uma solução que alcança mais a população que realmente necessita. “Houve um aumento salarial exagerado que impacta demais na carga tributária do empregador. Foi uma atitude míope do governo que custa 1,5% do PIB. O Bolsa Família atinge 25% da população e não representa nem 1% do PIB”, compara Néri.
Há quatro anos, a paulista Fátima Rabesco, 40 anos, estava desempregada e com três filhos para sustentar. Vivia com R$ 80 do Bolsa Família e R$ 120 da pensão do marido. Meses depois, conseguiu um emprego de auxiliar de limpeza, casou-se novamente e seu filho mais velho, Maicon, 18 anos, também começou a trabalhar. A renda familiar de Fátima subiu para R$ 1.830. Os ganhos a fizeram perder o Bolsa Família, mas ela não reclama. “Hoje tudo melhorou muito. Antes eu chegava a passar necessidade”, conta. O mercado de trabalho aquecido é o principal motor para que a redução da pobreza continue a acontecer. “O mercado está absorvendo mais gente, pagando melhores salários, e com carteira assinada”, explica Sonia Rocha, economista do IETS. As previsões para 2007 não desapontam. O ano deve fechar com a criação de 2,7 milhões de postos de trabalho. “Se essa projeção se concretizar, entre 2003 e 2007 vamos ter a criação de dez milhões de vagas”, diz Néri.
A inflação do Supersimples
O Supersimples, novo regime tributário para pequenas e médias empresas, acabará resultando em aumento de preços. Prestadoras de serviço ameaçam repassar para os clientes o aumento que tiveram na carga de impostos. As escolas de ensino infantil poderão ter aumento de até 11% nas mensalidades, segundo Celso Fernandes, presidente da Meira Fernandes Assessoria Contábil. As de ensino fundamental poderão subir 8,7%. “Haverá uma grande migração para as escolas públicas”, diz ele. Nas academias de ginástica, o aumento de impostos pode chegar a 100%. “Muitas só poderão manter os preços se forem para a informalidade”, diz Ricardo Abreu, vice-presidente da Associação Brasileira de Academias.