Desde pequena, a artista visual americana Alyce Santoro se encantava com o movimento das tiras de fita cassete que seu pai prendia no veleiro para poder ver a direção do vento. Anos mais tarde, ela se emocionou ao saber do costume tibetano de gravar preces em bandeiras para que o vento sopre as orações ao universo. Misto de bióloga marinha e artista conceitual, Alyce usou essas duas imagens como fonte de inspiração. E em 2001 uniu arte e tecnologia para criar um tecido feito com 50% de algodão e 50% de fitas cassete recicladas.

Batizado de Sonic Fabric, o tecido sônico é durável e pode ser lavado à mão. No processo de fabricação, ele mantém o magnetismo das fitas, o que transforma as roupas em autênticos walkmans de vestir. Nenhuma das peças tem a qualidade de áudio de um tocador de músicas como o iPod, avisa a artista. Ainda assim, com a ajuda de um walkman real embutido numa luva, os vestidos, as bolsas e as saias executam trechos da Nona Sinfonia de Beethoven, das vozes da cantora islandesa Björk e do poeta beatnik Jack Kerouac. Alyce produziu uma série de modelitos que tocam suas músicas preferidas, o que inclui Beatles, cantos de monges tibetanos e gravações da antiga banda punk da qual ela fazia parte.

O primeiro artista a vestir a idéia foi o baterista John Fishman, da banda americana Phish. Em sua turnê de 2004, o músico fez um solo memorável usando uma luva para também extrair sons do vestido diante de uma platéia de 20 mil pessoas. Desde então, as invencionices de Alyce circulam de boca em boca no mundinho fashion. E já começam a atrair a atenção de empresas como a japonesa Nissan, interessada em usar o tecido à base de fita cassete em seus estofados.

A mais recente criação da artista toca até 20 trechos de música. Seus planos incluem usar o Sonic Fabric na fabricação de roupas esportivas. Alyce e seus trajes musicais foram uma das atrações do sexto encontro anual de artistas e nerds que trabalham na fronteira entre arte e tecnologia, o dorkbot. Concebido pelo diretor de computação musical da Universidade de Columbia, em Nova York, o evento deste ano teve ainda como estrela o excêntrico engenheiro americano Mikey Sklar, que implantou no braço esquerdo um chip como aqueles que liberam o acesso aos pedágios nas estradas. Tudo em nome da arte.