25/01/2006 - 10:00
Depois de uma jornada de sete anos, retornou à Terra, em velocidade recorde de 47 mil quilômetros por hora, a cápsula da sonda espacial Stardust. No domingo 15, ela pousou no deserto do Estado de Utah, noroeste dos Estados Unidos, marcando o fim de uma missão de US$ 200 milhões. Na bagagem, a sonda trouxe um milhão de amostras de poeira do cometa Wild-2, todas menores do que a espessura de um fio de cabelo. Essa pitada celeste, que cabe em uma módica colher de café, já apimenta discussões e pode ser a resposta para muitas perguntas.
Do pó viemos, ao pó voltaremos. Há quem acredite que os cometas carregam a chave para desvendar a origem da vida. Assim pensava o astrofísico e cosmólogo inglês Fred Hoyle (1915-2001). Segundo ele, os cometas, resíduos que permanecem congelados e viajam em órbitas variadas pelo espaço, foram responsáveis pela formação da vida no Universo.
Lançada em 1999, a Stardust passou 2.555 dias garimpando o espaço, recolhendo partículas de 4,6 bilhões de anos atrás, tão antigas quanto o Sol. Para encontrar o cometa, em janeiro de 2004, a sonda primeiro teve que dar três voltas em torno do Sol. Só então ela conseguiu coletar as partículas de poeira que saltavam do Wild-2 a uma velocidade seis vezes superior à de um tiro de rifle. As amostras foram fisgadas por um aparelho com formato de raquete de tênis cheio de aerogel, um material poroso para fisgar a poeira do cometa.
Minutos antes de comemorar o sucesso do pouso da Stardust, Thomas Duxbury, o responsável pela missão no Laboratório de Propulsão a Jato da Agência Espacial Americana Nasa, viveu momentos de tensão causados por uma recente lembrança. Em 2004, a espaçonave Genesis voltava para casa com amostras do vento quente emitido pelo Sol quando se espatifou por uma falha dos pára-quedas, resultando na perda de grande parte do material. Passado o susto, Duxbury e sua equipe de 180 cientistas agora arregaçam as mangas para cortar as amostras trazidas do espaço em partículas ainda menores para analisá-las com a ajuda de microscópios especiais. Tudo para sondar a composição química do cometa Wild-2. Resta esperar os resultados elaborados por cientistas de 25 instituições de pesquisa envolvidas no projeto. O pitoresco é que o grande mistério sobre a origem do Sistema Solar, ironicamente, caiba em uma simplória colher de café.