04/08/1999 - 10:00
Uma nova guerra foi deflagrada no ciberespaço brasileiro: as operadoras de TV a cabo estão agora lutando pelo acesso à Internet em alta velocidade. O cavalo de batalha é o poderoso cable modem, uma tecnologia que faz o velho modem de 33,6 kbps parecer uma tartaruga com reumatismo. Quem deu o primeiro tiro foi a TVA (empresa do Grupo Abril), que aproveitou a Fenasoft para lançar o seu @Jato, que já conta com mais de 500 assinantes em São Paulo, por enquanto a única cidade brasileira onde o serviço está disponível. A Net (das Organizações Globo) contra-atacou anunciando "para breve" o seu Virtua, que no entanto ainda aguarda regulamentação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) – o que, se espera, acontecerá neste mês. Abrindo um segundo front, a PSINet planeja estrear em novembro seu InterSky, de conexão sem-fio, feito por antenas de microondas digitais.
Ufa! Já era hora. Pelo telefone a Internet anda mais entupida do que o trânsito de São Paulo, mais devagar do que fila de banco. E nem vamos falar da conta no fim do mês. Em tese, o modem por cabo pode atingir a estonteante velocidade de 10 megabits por segundo, ou 200 vezes mais rápido do que a conexão telefônica. É como estar a um clique do paraíso. Pense nas possibilidades: WebTV, teletrabalho, "video on demand", comércio eletrônico. A má notícia é que esses novos sistemas ainda não são assim tão rápidos. E, apesar de utilizarem a mesma estrutura da TV a cabo, @Jato e Virtua têm uma diferença fundamental. O sitema da TVA é unidirecional: a solicitação de dados pelo usuário (upload) é feita pela linha telefônica, enquanto o download vem pelo cabo. O sistema da NET é bidirecional, dispensando o uso do telefone. E sua velocidade varia conforme a localização do site acessado, se ele está na "rede local" ou na "aberta".
Rede local são os servidores de conteúdo conectados ao sistema de cabos da operadora. Pelo Virtua, segundo uma avaliação feita pela revista eletrônica IDG Now!, a velocidade da conexão em rede local chega a "algo perto de 128 quilobits por segundo", ou quatro vezes mais rápida do que a de um modem convencional. Na rede aberta – o "resto" da Web –, a velocidade cai pela metade. O @Jato, por sua vez, continua ocupando a linha telefônica, adicionando mais um custo à navegação ciberespacial. A TVA, entretanto, diz que sua rede está preparada para funcionar em mão dupla. Assinantes da TVA pagam uma taxa de R$ 40 pela instalação e R$ 65 mensais pelo serviço; os não assinantes pagam R$ 120 e R$ 79, respectivamente. Além disso, é preciso comprar um cable modem por R$ 650.
O alvo do InterSky, por outro lado, são as pequenas empresas e os condomínios residenciais. Funcionando desde abril nos EUA, o sistema wireless da PSINet (terceira maior provedora do País, depois da UOL e da Zaz) utiliza antenas semelhantes às da tevê por satélite, tem velocidade de download acima de 128 Kbps e a vantagem de dispensar o modem – a antena serve a uma rede local que interliga os usuários.
Até agora, essa guerra ciberespacial não causou nenhuma baixa – talvez só uma pequena baixaria. As revistas semanais dos grupos empresariais envolvidos no confronto trataram do assunto na semana passada. Tanto a Veja (Abril) quanto a Época (Globo) encarregaram-se de dar uma força aos seus respectivos serviços de acesso. Ignorando o concorrente, Veja disse que pelo @Jato "navegar de um site para outro fica tão rápido quanto mudar de canal na televisão". Sem muitas novidades no front, Época limitou-se a relatar sobre os testes do Virtua em Sorocaba (SP), onde "300 computadores foram conectados com a rede mundial pelos cabos da Net" a um custo mensal de R$ 65 por cabeça. E sim: ela citou a concorrente.