04/08/1999 - 10:00
A Polícia Federal está investigando a venda de 80 toneladas de queijo importado doadas pela Receita Federal ao Programa Comunidade Solidária do Rio de Janeiro. Esse queijo, importado da Austrália e apreendido no começo do ano, foi vendido a atacadistas de São Paulo a preços que variam entre R$ 0,80 e R$ 1,30 o quilo pela empresa DFS Representações Ltda., que diz ter autorização do Comunidade Solidária para comercializar mercadorias doadas pela Receita. No endereço da DFS na avenida Paulista, 1.159, conjunto 613, funciona uma clínica de estética feminina, a Siloulight, de Dagoberto Francisco de Souza, que se apresenta como representante do Comunidade Solidária do Rio em São Paulo. Os queijos estão sendo revendidos por preços entre R$ 4 e R$ 6 o quilo. ISTOÉ apurou ainda – e a PF não sabe – que 20 toneladas de farinha de glúten, também doadas ao Comunidade Solidária, foram vendidas por R$ 60 mil à Serrana Química Comercial Ltda., de Porto Alegre.
Foi o próprio Dagoberto quem confirmou que a DFS foi criada apenas para intermediar o recebimento e a venda das mercadorias doadas pela Receita ao Comunidade. Ele alegou que os alimentos perecíveis são comercializados "porque o programa não dispõe de meios de transporte adequados para levá-los ao Rio". Garantiu ainda que a operação foi "absolutamente legal", mas não soube explicar por que os queijos foram revendidos a preço de banana. ISTOÉ procurou a coordenadora-executiva do Comunidade Solidária do Rio, Miriam Valadares, que não retornou os telefonemas. Quem deu explicações foi o secretário de Comunicação Social do governo fluminense, Carlos Henrique Pena, que afirmou que Brasília autorizara as vendas.
As 80 toneladas do queijo foram adquiridas pela Alca Atacadista de Alimentos Ltda., de São Paulo, que ficou com 37 toneladas, revendendo parte a outros atacadistas. Já a Teixeira Produtos Alimentícios Ltda. adquiriu 43 toneladas para serem processadas como queijo parmesão ralado, cujos saquinhos de 100 gramas são vendidos a R$ 2. Pelas 80 toneladas, no final, o Comunidade Solidária recebeu cerca de R$ 62 mil. O dono da DFS mostrou recibos de depósitos bancários do dinheiro repassado ao Comunidade, mas não soube explicar quem havia emitido notas fiscais ou recibos para a comercialização do queijo. A PF obteve na DFS a cópia de um recibo de R$ 12.800 emitido pela "Vida – Obra Social", entidade beneficente carioca, em favor da atacadista Alca, pela venda de parte dos queijos. Um delegado considerou o procedimento estranho. Disse que o correto teria sido o Comunidade Solidária fazer uma licitação para a venda dos queijos.