O lendário cacique mineiro Magalhães Pinto costumava se referir à política como uma nuvem que passa em constante transformação. “Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”, dizia. E eis que, a confirmar os desígnios da velha raposa, mais uma lufada de ventos extratropicais – não captados pela meteorologia partidária – trouxe na semana passada nuvens carregadas para o eixo do poder no qual, há quase 20 anos, PT e PSDB se alternam para administrar o condomínio. O fenômeno que vira o clima eleitoral tem cara e comportamento conhecidos. A ambientalista Marina Silva e o desenvolvimentista Eduardo Campos se uniram para apresentar o que pode ser entendido como uma terceira via no jogo da sucessão. Sobre o ninho tucano e nas hostes petistas formou-se literalmente uma tempestade, com os correligionários revendo estratégias e contas de apoios das respectivas bancadas. A aliança, por si só, muda toda a dinâmica pré-campanha e desloca a disputa para um terreno de probabilidades menos previsíveis. Marina, que carrega na bagagem mais de 20 milhões de votos das últimas urnas e ocupava até aqui a segunda posição nas pesquisas de intenção, traz para a dobradinha um público desejoso de mudanças radicais do sistema. Foi ela, afinal, quem melhor capitalizou os anseios refletidos nas recentes manifestações de rua. Campos, por sua vez, hegemônico em alguns currais eleitorais do Nordeste, com mais de 80% de aprovação no governo estadual de Pernambuco e com uma força de convencimento capaz até de aplicar uma derrota inesperada a Lula – como ocorreu no ano passado com o seu apadrinhado levando a Prefeitura do Recife –, agrega à futura chapa a imagem de eficiência de gestão e a simpatia de um empresariado disposto a financiar alternativas de poder. Não há ainda, é claro, uma plataforma de governo definida e endossada pelos dois, dado o curto espaço de tempo desde o anúncio da parceria. Da mesma forma que não deve existir, e não é de se esperar, uma soma aritmética simples e direta de seus respectivos capitais políticos. Ao contrário. Marina, por exemplo, terá que abrandar os ânimos e conter a insatisfação na base, formada em sua maioria por puristas desejosos de que ela se lançasse numa candidatura independente. Campos, por sua vez, pode enfrentar desconfiança do mercado ao abraçar teses conservadoras de gosto da nova aliada. Ambos ex-ministros de Lula, com trajetórias e visões visivelmente distintas em vários pontos, Marina e Campos passam a exercitar o trabalho da convergência de ideias em prol de um objetivo comum: quebrar a polarização de comando no Planalto. No horizonte, o que se pode vislumbrar desde já é uma eleição mergulhando em um novo plano, mais rico de ideias e possibilidades.