Nos próximos dias, capitaneadas pelo PT, entidades como Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) acertam os últimos detalhes do Plebiscito Nacional sobre a Dívida Externa. A votação acontecerá na Semana da Pátria, entre 2 e 7 de setembro. As urnas serão colocadas nas sedes das entidades, praças públicas e outros locais movimentados de dezenas de cidades do País. Três perguntas serão feitas aos interessados em participar: O governo brasileiro deve manter o atual acordo com o FMI? O Brasil deve continuar pagando a dívida externa, sem realizar uma auditoria pública dessa dívida, como previa a Constituição de 1988? Os governos federal, estaduais e municipais devem continuar usando grande parte do orçamento público para pagar a dívida interna aos especuladores?
Ainda desconhecida pela maioria da população, a idéia mexeu com os brios do governo. O ministro Pedro Malan, na semana passada, acusou o golpe, criticando abertamente a proposta, de modo geral, e o PT, em particular. “A dívida é perfeitamente administrável, estamos alongando o perfil e o custo está caindo”, afirmou. Malan argumentou que compromissos do setor público diminuíram recentemente, somando hoje US$ 90 bilhões. O que o ministro deixou de mencionar foi o fato de a dívida total, incluindo a das empresas privadas, ter aumentado de US$ 148 bilhões para US$ 237 bilhões, desde 1994. E que, no fundo, as duas formas de endividamento podem ser igualmente desestabilizadoras, dependendo do humor dos investidores e bancos internacionais.

O plebiscito brasileiro foi inspirado em uma discussão que ocorre hoje na Europa, lançada pelo Vaticano, de perdão das dívidas de 40 países pobres altamente endividados, entre os quais não se encontra o Brasil. O ex-presidente do FMI Michel Camdessus, por sinal, participa da campanha, como assessor do papa João Paulo II.
O principal objetivo do plebiscito é marcar posição. As entidades querem deixar claro que são contra a política econômica do governo FHC. Não por acaso o PT é mais ativo nos preparativos, aproveitando o tema em seus comícios. Argumento não vai faltar: somente no ano passado, o País enviou ao Exterior cerca de R$ 90 bilhões entre juros e amortizações, enquanto os gastos federais com saúde pública somaram R$ 19 bilhões.