Por ocasião da visita do presidente americano George W. Bush ao Vietnã, o ex-secretário do Trabalho do governo Clinton, Robert Reich, escreveu que os EUA ainda vivem sob a síndrome da “teoria do dominó” mais de 30 anos após o fim do catastrófico envolvimento militar americano no Sudeste Asiático. Nos anos 60, o Pentágono acreditava que, se o Vietnã do Sul caísse nas garras do Vietnã do Norte, todos os países da região sucumbiriam à sanha do comunismo. “Mas aí aconteceu uma coisa estranha”, diz Reich. A China se tornou a nação capitalista que mais cresce no mundo e o Vietnã um dos mercados mais aquecidos da Ásia. E o verdadeiro dominó não foi o comunismo, mas o capitalismo, que parece hoje tão ameaçador para os EUA quanto o comunismo há 40 anos.

Uma boutade de Reich? Não, se observarmos como os congressistas americanos estão caindo na tentação protecionista nas relações comerciais com os países emergentes, principalmente depois da reconquista do Congresso pelo Partido Democrata. Com o Vietnã, por exemplo, os deputados suspenderam a normalização das relações comerciais. O país comunista fez várias concessões para entrar na Organização Mundial do Comércio. Mas não apenas os vietnamitas estão sendo punidos por Tio Sam por adotar as regras do capitalismo. A América Latina, a região que mais servilmente adotou o receituário neoliberal, é o próximo alvo. Os tratados de livre comércio assinados com o Peru e a Colômbia estão ameaçados. Medidas que favorecem o Brasil e outros países, como o Sistema Geral de Preferências (SGP) e o fast track, também poderão ser revistas.

Desse modo, o grande paradoxo é que a maior potência capitalista da Terra se sente ameaçada pelo “dominó capitalista” que ela mesma montou ao redor do mundo. Para preservar seus empregos, os EUA fecham-se em si mesmos. Enquanto isso, na periferia, certos ventríloquos do Consenso de Washington criticam o Itamaraty por não priorizar as relações com os EUA. Tem banana comendo macaco…