25/01/2006 - 10:00
A denúncia sobre o megacaixa 2 de Itaipu (ISTOÉ 1891) abriu as comportas de um debate represado há 33 anos: afinal, quem controla a maior hidrelétrica do mundo, que produz um quarto da energia consumida no Brasil e 95% do consumo do Paraguai? O depoimento do economista Laércio Pedroso, que trabalhou na binacional até 1992, acusando a existência de um caixa 2 que os brasileiros operavam sem o conhecimento dos paraguaios, fez a questão transbordar dos dois lados da fronteira.
Na terça-feira 17, o presidente da Controladoria Geral da República em Assunção, Octávio Airaldi, sugeriu ao presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Adylson Motta, uma ação conjunta para romper a blindagem da binacional: “Entrar em Itaipu é uma decisão política. São os governos que devem ter interesse em dar transparência ao que há ali”, disse Airaldi a Motta, que vai ao Planalto pedir ao presidente Lula que tome a mesma iniciativa com seu colega paraguaio Nicanor Duarte.
A oposição vai pedir que as CPIs dos Correios e dos Bingos e as Comissões de Fiscalização e Controle e de Minas e Energia façam uma acareação entre Laércio Pedroso e diretores de Itaipu. Na rota inversa, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) vai a Assunção, na semana que vem, para ouvir as queixas de seus colegas do Congresso contra a blindagem do lado paraguaio. Desde segunda-feira 16, funcionários de Itaipu têm suas bolsas e pastas revistadas na saída do serviço, refletindo a irritação que a reportagem provocou na direção de Itaipu.
Na sede de Curitiba, o diretor-geral Jorge Samek, ao lado de dois antecessores, Francisco Gomide e Euclides Scalco, atacou o denunciante como “delinqüente, falsificador e estelionatário”, negando o caixa 2 e garantindo: “Itaipu nunca teve Nota de Débito, nunca usou Unidade de Correção Monetária como moeda e nunca teve um documento contábil conhecido por CCP.” As provas de sua existência estão nos próprios documentos de Itaipu encaminhados à CPI dos Correios. Um “Sistema de Controle de CCPs”, ou Comprovante de Contas a Pagar, datado de agosto de 2005, aponta o documento de cobrança: “Nota de Débito”. A moeda que não existe, a UCM, aparece já em documentos de 1991 com outro fantasma: o CMAP, Correção Monetária por Atraso de Pagamento. O próprio diretor Jorge Samek, num documento de outubro passado, remetido à Secretaria de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, menciona, sem qualquer indignação, os CCPs requeridos pelo deputado Luiz Carlos Hauly. Nesta enxurrada de siglas, só o TCU ou uma acareação entre Laércio e Samek pode esclarecer quem está dizendo a verdade.