07/07/1999 - 10:00
Junte o desejo de um corpo definido à lei do mínimo esforço e adicione uma propaganda sobre suplementos milagrosos. O resultado é uma legião de frequentadores de academia de ginástica se rendendo às pílulas e shakes à base de aminoácidos, carboidratos e até hormônios na esperança de ganhar massa muscular, perder peso e melhorar a performance. Vendidos nas academias ou em lojas de produtos nutricionais, esses compostos sintéticos estão, literalmente, na boca dos atletas de academia. A Probiótica, um dos laboratórios líderes do mercado no Brasil, confirma o fenômeno. No primeiro semestre deste ano vendeu cerca de 30% a mais de suplementos do que no mesmo período do ano passado.
O problema, no entanto, é se esses complementos realmente ajudam. A princípio, a contribuição parece pequena. Não há pesquisas conclusivas, por exemplo, sobre a vantagem dos suplementos nutricionais para os atletas de academia. Uma dieta balanceada é capaz de fornecer tudo o que um praticante de atividade física precisa. "Em excesso, os suplementos são excretados. E ninguém sabe se isso não causa sobrecarga renal", diz Julio Tirapegui, bioquímico da Universidade de São Paulo (USP). Até o momento, procurou-se checar os efeitos da suplementação apenas em atletas profissionais. Numa pesquisa realizada pelo biólogo Luís Fernando Bicudo, da USP, constatou-se que triatletas ficam 40% mais resistentes à infecções quando utilizam suplementos a base de aminoácidos, indicados para aumentar a massa muscular. Para quem não compete essa dose extra é desnecessária. "O exercício é suficiente para melhorar o sistema imunológico", afirma Rosa.
Quem estiver disposto a tentar, mesmo assim, uma suplementação, deve pedir orientação a um nutricionista. Para o administrador de empresas Ricardo Janini, 23 anos, que conta com essa assessoria, valeu a pena. Em três anos, ele ganhou 15 quilos. "Mas faço exames constantes porque sei que proteínas demais podem causar cálculo renal", diz. Sua namorada, Maria Virgínia Alcântara, 22 anos, aderiu à cautela. "Tomo aminoácido e creatina, mas vou devagar com a dose", assegura. A avaliação médica ajuda a saber se o indivíduo se beneficiará de algum suplemento. "Nem todos respondem igual ao mesmo exercício, e não deverão responder da mesma forma aos suplementos", diz o fisiologista Turíbio Barros Neto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A orientação evita desperdício de dinheiro, já que os produtos são caros. A estudante carioca Juliana Machado, 20 anos, paga R$ 30 por um pote de L-Carnitina. "Ajuda a secar. Mas se sair da dieta e tomar a carnitina sozinha, não adianta", diz.
Como não há provas de que os suplementos, na dose correta, sejam lesivos à saúde, eles podem ser comercializados. O problema é que algumas drogas com hormônios e estimulantes estão sendo vendidos nas mesmas prateleiras e tomados com a mesma voracidade. O Ripped Fuel e seu novo concorrente, o Xenadrine, por exemplo, contêm efedrina, um tipo de anfetamina que pode levar à dependência. Esses produtos estão proibidos no Brasil (no atletismo, é considerado doping, assim como os anabolizantes). Na prática, porém, a oferta é cada vez maior. "É caso de polícia. Mas não temos como fiscalizar", afirma o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina Neto. Separar o joio do trigo na seara dos aditivos que prometem modelar o corpo não é fácil. Mas o fisiologista Paulo Zogaib, da Unifesp, dá a dica. "Uma pessoa que frequenta academia não precisa tomar suplementos", diz.
Colaborou Valéria Propato, do Rio