09/02/2000 - 10:00
Um ano depois da desvalorização do real, está chegando ao fim o inquérito que apura a venda de dólares do Banco Central aos bancos Marka e FonteCindam. Em apenas 48 horas, entre quarta e quinta-feira, a Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais da Polícia Federal indiciou cinco pessoas: o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes; o ex-presidente do Banco FonteCindam Luiz Antônio Gonçalves; o ex-dono do Banco Mar-ka Salvatore Caccio-la; sua ex-diretora jurídica Cinthia Costa e Souza; além de Luiz Augusto Bragança, irmão de Sérgio Bragança, sócio de Chico Lopes na empresa de consultoria Macrométrica. As investigações vão prosseguir e novos depoimentos serão colhidos pela PF. O relatório final do inquérito será encaminhado ao Ministério Público Federal que vai, então, decidir se tem ou não condições de denunciar os acusados à Justiça.
Foi o segundo indiciamento de Francisco Lopes em menos de um mês. Em janeiro, Lopes foi indiciado por evasão de divisas, já que se recusou a explicar a origem do dinheiro (US$ 1,67 milhão) que teria numa conta no Exterior. Na quarta-feira 2, o delegado Luiz Pontel enquadrou Lopes sob a acusação de peculato. O ex-presidente do BC pode ser condenado de 2 a 12 anos de prisão. Ele é suspeito de ter vendido dólares aos bancos Marka e FonteCindam abaixo do preço de mercado. Mais uma vez, Lopes entrou mudo e saiu calado do prédio da PF, no centro do Rio, mas abriu uma exceção: ele apresentou um material com a sua letra para futuro exame grafológico.
Na quinta-feira 3, foi a vez de Cacciola. O ex-dono do Banco Marka chegou com 50 minutos de atraso ao depoimento. Ele respondeu a algumas perguntas e deu explicações sobre recentes viagens ao Exterior. Disse que teria ido à Europa para passear e ao Uruguai para resolver negócios. Depois de uma hora e meia de depoimento, Cacciola foi considerado co-autor no crime de peculato que teria sido cometido pelo BC na gestão de Lopes e indiciado por gestão fraudulenta. "Não consigo entender por que o delegado indiciou Cacciola em gestão fraudulenta. Foi uma surpresa para nós. Espero que, com a conclusão do processo, a gente consiga entender os motivos para esta acusação. Além do mais, meu cliente nunca cometeu peculato. Está beirando a má-fé a reiterada alegação de prejuízo bilionário que o Banco Marka teria provocado no BC", comentou o advogado de Cacciola, José Carlos Fragoso.
A ex-diretora jurídica do Banco Marka Cinthia Costa e Souza também foi indiciada em crime de co-autoria de peculato junto com o BC, assim como Bragança. O presidente do Banco FonteCindam foi acusado de gestão temerária. "Este indiciamento foi o coroamento de uma imensa onda criada por pressões políticas. Estou convencido de que as operações com o BC foram legais", comentou o advogado de Gonçalves, Técio Lins e Silva.