16/08/2000 - 10:00
Apesar de diminuir a quantidade de HIV no sangue e no sêmen, o coquetel anti-Aids não permite que o paciente soropositivo dispense o uso de preservativos nas relações sexuais. Mais grave: quem deixa de tomar esse cuidado pode estar contaminando o parceiro com um tipo mais resistente do vírus. Essas são as principais conclusões de um estudo realizado em conjunto por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos. “Havia uma suspeita de que isso acontecesse, mas é a primeira vez que se consegue comprovar esse fenômeno clinicamente, acompanhando a reação de pacientes com Aids”, afirma o infectologista Paulo Barroso Feijó, 40 anos, chefe do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. O resultado foi publicado na terça-feira 15 na Annals of Internal Medicine, respeitável publicação científica americana, com créditos para a equipe, que inclui seis pesquisadores brasileiros da UFRJ e dois da Universidade de Pittsburg. O trabalho deve motivar campanhas mundiais de prevenção destinadas a pacientes soropositivos.
A pesquisa começou em 1996 e estudou as reações de 93 homens – todos brasileiros – que contraíram o vírus da Aids. “Queríamos saber a quantidade de vírus no sêmen de pessoas que recebiam tratamento contra o HIV”, explica Feijó. Chegou-se à conclusão de que os remédios diminuem bastante a quantidade de vírus no organismo, mas 25% dos pesquisados continuaram mantendo HIV no sêmen mesmo seis meses após o início do tratamento. “É possível que o vírus que permanece seja de um tipo mais resistente ao medicamento. A pessoa infectada terá possivelmente maiores dificuldades de ser tratada”, conta o cientista. Feijó ressalta a importância da conclusão e adverte: “As pessoas devem continuar usando preservativos mesmo se estiverem tomando remédios, mesmo se estiverem se sentindo bem ou mesmo se a quantidade de vírus estiver diminuindo.”