Uma técnica delicada e pouco conhecida está devolvendo a diabéticos a oportunidade de retomar antigos prazeres, como saborear doces. Melhor: oferece a chance de cura da doença para quem sofre de diabete do tipo 1 ou juvenil, que requer reposição de insulina. Trata-se do transplante isolado do pâncreas, cirurgia regulamentada em 1999 pelo governo, que desde então distribui remédios para evitar a rejeição. Já foram realizadas com sucesso três operações do gênero no País. Duas aconteceram em julho, no hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo – a pioneira, em 1997, ocorreu sem direito a droga gratuita. Em todos os casos, a taxa de açúcar no sangue está normalizada.

Provar um sanduíche do McDonald’s foi o modo escolhido por Marco Antônio Ribeiro, 31 anos, para comemorar na semana passada o primeiro mês com o pâncreas novo. Ele soube da operação em 1988, mas esperou pela regulamentação. Caso contrário, seria obrigado a pagar pelos remédios anti-rejeição, o que representa uma despesa mensal de até R$ 3 mil. “Vinte dias após a cirurgia, tomei chá com açúcar. Agora, como até nhoque”, conta. Miriam Kunis, 28 anos, também fez o transplante em julho. “Voltei a me alimentar bem e minha disposição melhorou”, diz.

Os novos pâncreas estão produzindo normalmente a insulina, chave que abre a porta das células para a entrada do açúcar. A deficiência do órgão em fornecer o hormônio é a principal causa do diabetes juvenil. Mas a substituição do pâncreas nunca foi de simples execução. A eficácia do procedimento não passava de 50%, enquanto que o transplante duplo (desse órgão e do rim ao mesmo tempo, indicado para diabéticos com graves problemas renais) apresentava um índice bem melhor: 75%. “O rim é o primeiro a mostrar sinais de rejeição. Podia-se prever que o mesmo estava ocorrendo com o pâncreas. Com a técnica isolada, detectar os problemas era mais difícil”, explica o cirurgião Tércio Genzini, integrante da equipe que operou Ribeiro e Miriam. Na década de 90, o transplante isolado e as drogas imunossupressoras (evitam a rejeição) foram aprimorados. Em 1997, nos Estados Unidos, um estudo mostrou 75% de sucesso.

Hoje, o hospital tem uma relação de oito pacientes esperando serem submetidos a esse procedimento. De acordo com Genzini, além dessa instituição, o Hospital das Clínicas de São Paulo e a Santa Casa de Porto Alegre estão habilitados a realizar a cirurgia. Mas outros lugares poderão engrossar essa lista. “Pacientes e médicos devem buscar mais informações sobre a técnica. A oferta de cura para essa doença causará impacto.” 

Até o Viagra

Quem sofre com a forma mais comum de diabetes (o tipo 2), que em geral atinge pessoas com mais de 40 anos, ganha novas armas. Em setembro chega ao Brasil o Starlix, remédio que controla o nível de glicose no sangue após as refeições, quando a taxa de açúcar se eleva mais. A droga, cuja substância ativa é a nateglinida, aumenta a secreção de insulina e imita a resposta natural do organismo à ingestão de alimentos. Os picos de glicose podem levar a infarto do miocárdio.

Outra substância também promete proteger o coração do diabético. Recentemente, foi apresentada na Suíça pesquisa feita com 418 pacientes. Esse trabalho revelou que o fenofibrato reduz até 40% a chance de o doente desenvolver problemas cardíacos. Também em estudos está o Viagra. De acordo com cientistas da Johns Hopkins University (Estados Unidos), experiências feitas com ratos mostraram que a pílula tratou de um distúrbio gástrico que afeta 75% dos diabéticos e que provoca perda de apetite e vômitos. Daqui a um mês começam os testes em humanos.