Catástrofes continuam sendo assunto empolgante de filmes americanos em busca de grandes bilheterias. Como garantia de emoções ainda mais fortes e algumas lágrimas de tempero, no entanto, a receita tem de incluir garota apaixonada pelo garoto truculento, ex-esposas, filhinhos, homens solitários, enigmáticos, que despertem compaixão e, em alguns casos, matriarcas de personalidade forte, mas que não escondem o desespero em público diante da aflição de perder o filho. De posse destes ingredientes já contidos na história descrita no livro A tormenta (Ediouro, 254 págs., R$ 14,90), de Sebastian Junger, no qual se baseou, o diretor alemão Wolfgang Petersen saiu em campanha, filmou o sucesso Mar em fúria (The perfect storm, Estados Unidos, 2000) – estréia nacional na sexta-feira 25 – e de cara faturou US$ 64 milhões entre os americanos.

Tudo começa muito manso em Mar em fúria. Não há peixões atacando na escuridão da madrugada nem notícias de furacões devastadores vindos do oceano. Na pequena Gloucester, Massachusetts, a tragédia se esboça nos barcos de pesca que voltam semivazios, sem a preciosa carga que dá sustento a um bando de homens rudes, honestos e fedendo a peixe. Quase não há tempo para aliviar as tensões no sexo e na bebida. A trupe precisa partir para uma nova aventura, longínqua, em busca de toneladas de pescado. George Clooney, na figura do veterano capitão Billy Tyne, está empenhado em recuperar o status de lobo-do-mar. Ao lado de Bobby Shatford (Mark Wahlberg), garotão curtindo romance recente, necessitado de dinheiro para iniciar nova vida, ele forma a linha de frente da tripulação. Só não contavam com a confluência entre o furacão Grace – que em 1991 verdadeiramente arrasou cidades e matou milhares de pessoas – e duas outras poderosas forças climáticas que transformariam o mar no epicentro de uma bomba nuclear.

Depois de muita demora para delinear os personagens e alinhavar a história, lá pela metade do filme surge o festival de efeitos especiais realizados pela Industrial Light & Magic, de George Lucas. Mas, passados alguns sustos e a tensão durante os minutos iniciais da grande hecatombe, o espectador começa a se entediar diante daquela aguaceira. É pescador caindo no mar ou querendo consertar o que nunca mais se consertará, é a onda gigantesca ameaçadora, é aquele barulho de vento infinitamente ouvido em outras cenas de filmes semelhantes. Em vez de medo, a vontade é que toda a tripulação se salve logo e pronto. Mas no seu enredo déjà vu, Mar em fúria quis ser mais implacável que todas as outras catástrofes do gênero. E conseguiu.