Sentar-se num divã e passar anos num processo de psicanálise tem se tornado um prazer difícil. Pouca gente desfruta de tempo, dinheiro e disposição para encarar sessões semanais de análise a perder de vista. Por isso, uma modalidade de terapia que privilegia a rapidez no encontro de soluções ganha cada vez mais adeptos. É a psicoterapia breve, técnica com a qual se determina o número de sessões a serem feitas e o problema a ser discutido. Se a questão é acabar com a angústia do desemprego, por exemplo, o trabalho terapêutico é dirigido para isso.

Nos consultórios, a procura por esse tipo de terapia é cada vez maior. No Rio, até uma clínica especializada foi aberta recentemente. É o SOS Terapia Breve, que em oito meses de funcionamento já atendeu mais de 90 pacientes. É simples entender por que tanto sucesso. "A vida moderna e o poder aquisitivo das pessoas despertam a demanda para serviços com tempo menor e eficientes", afirma Ana Bock, presidente do Conselho Federal de Psicologia. A técnica da psicoterapia breve, porém, não é nova. Na década de 20, discípulos de Freud já desenhavam terapias menos longas do que as criadas pelo pai da psicanálise.

O método ganhou força na Segunda Guerra, nos Estados Unidos, quando havia muita gente precisando de atendimento e poucos terapeutas. Para que o tratamento fosse abreviado, novos procedimentos foram criados. Um deles foi determinar foco na discussão do motivo que desencadeou a crise. E, hoje, se estabelece a terapia breve, um trabalho a ser feito em no máximo um ano.

O número de sessões por semana varia de acordo com a necessidade do paciente. "Uma paciente queria resolver se iria abortar. Ela fez sessões todos os dias durante 15 dias", lembra Mauro Hegenberg, coordenador do curso de Psicoterapia Breve do Instituto Sedes Sapien-tiae, em São Paulo. Se o tempo combinado não for suficiente, os especialistas sugerem uma terapia mais de longo prazo ou marcam retornos para depois de algumas semanas. O objetivo, no entanto, é resolver a angústia no tempo determinado. Para que isso seja conseguido, há posturas específicas. "O paciente não se deita no divã. Ele fica frente a frente com o terapeuta, numa posição que favorece atenção seletiva", explica a psicóloga Carolina Ribeiro.

Há características do paciente que indicam maiores chances de sucesso da terapia. Ele tem, por exemplo, que desejar mudar. Até porque é um engano imaginar que a terapia breve é limitada a tratar os sintomas da crise. "A psicoterapia breve não visa só a mudança comportamental, mas resolver o conflito que levou àquela situação", explica Felícia Knobloch, coordenadora do Núcleo de Psicoterapia Breve da PUC/SP. Apesar de breve, esse tipo de terapia pode ir fundo e ajudar o paciente a descobrir outras saídas na sua vida. Foi o que aconteceu com a pintora Astrid Salles, 58 anos. Convidada para uma exposição na Alemanha, Astrid ficou insegura e resolveu fazer uma terapia breve, com o psicólogo Mauro Hegenberg, para decidir se viajaria. Foi para a exposição, ganhou mais felicidade na profissão e melhorou relacionamentos pessoais. "Foi muito bom para mim. Fiquei uma profissional mais segura", conta, satisfeita.