25/01/2000 - 10:00
Foram quase cinco anos de puro segredo comercial e tecnológico. Mas, na quarta-feira 19, a Meca da tecnologia de ponta da computação, o Vale do Silício na Califórnia, ficou bastante agitado com o lançamento de um novo e radical microprocessador (o chip que comanda um PC), produto de uma também nova e ousada fabricante, a Transmeta. Essa corporação, fruto de uma sociedade de milionários, como Paul Allen (que foi, com Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft), o megainvestidor George Soros e o Deutsche Bank, promete uma competição pesada com o maior dos fabricantes de chips do mundo, a Intel. E o mercado-alvo será o dos nascentes computadores realmente portáteis – que mais parecem pranchetas – que darão acesso à Internet via rádio.
A grande revolução apresentada pela Transmeta está dentro dos seus chips Crusoe (nome tirado do clássico das histórias de aventuras Robinson Crusoé). Eles conseguem vencer o que até então era um dos grandes obstáculos da computação portátil: alta performance de processamento com baixíssimo consumo de energia de bateria. Para se ter uma idéia dessa capacidade, as novas pranchetas – já apelidadas de WebPCs – poderão funcionar um dia inteiro e a uma velocidade comparável ao mais rápido dos PCs de hoje (700 MHz) sem precisar que a bateria seja recarregada. David Ditzel, um dos fundadores e o executivo principal da Transmeta, disse que um acordo já foi fechado para que a IBM fabrique os Crusoe em série. As primeiras unidades desses chips começarão a ser vendidas no meio do ano, a preços bem competitivos em relação aos de mesma potência da Intel.
Há meses que a Transmeta – que fica a poucas quadras da Intel, na localidade californiana de Santa Clara – era alvo de boatos e especulações. Sabia-se que o objetivo da nova companhia era ousado, para não dizer revolucionário. Isso ficou mais patente ainda quando, há menos de um ano, soube-se que Linus Torvalds, o criador do já famoso sistema operacional gratuito Linux, entrou como parceiro na Transmeta. Na coletiva de imprensa da semana passada, os executivos da nova empresa mostraram que seus produtos terão a Microsoft como sua aliada – porque os equipamentos irão trabalhar com o Windows -, mas também introduzirão novos softwares (Linux) competitivos com os da empresa de Bill Gates. O grande segredo revelado na apresentação, porém, foi a solução tecnológica encontrada pelos seus engenheiros para aumentar tanto a performance dos chips: boa parte do processamento do hardware (a parte sólida) do componente foi transferida para o software embutido nele (o programa que dá as instruções à máquina). Ditzel justificou o mistério em torno do que estavam fazendo com o argumento de que quiseram proteger suas novas idéias tecnológicas até que elas estivessem prontas e testadas.
"A Internet mudou tudo", explicou Ditzel. "Daqui para a frente, você não vai mais querer sair de casa sem sua conexão portátil com a Internet, da mesma forma que você já faz com seu telefone celular." Além da simplicidade de processamento, esses novos chips conseguem trabalhar em paralelo. Isto é, executam várias tarefas simultaneamente. O que acelera muito sua performance. O mais poderoso deles, o Crusoe TM5400, tem uma velocidade de 700 MHz (muitíssimo rápido para os padrões atuais de PCs), consumindo um décimo da energia dos seus concorrentes da Intel. O software embutido nele, que recebeu o nome de LongRun, tem a capacidade de aprender os costumes de seu usuário e, assim, ajustar da melhor forma possível o uso de consumo de energia e velocidade. Em uma das demonstrações, os executivos mostraram um chip Crusoe trabalhando por mais de três horas consecutivas para um pequeno aparelho de DVD portátil, sem precisar estar ligado à parede.