09/06/1999 - 10:00
Preciosidades reunidas pelo bibliófilo e colecionador José Carlos Macedo Soares, 49 anos, dono de uma biblioteca de 25 mil volumes guardada em Petrópolis, vão mudar de mãos na quinta-feira 17. Um leilão na sede central do Jockey Club do Rio vai trazer a público curiosidades como um álbum com 44 fotos que ilustra a viagem do filho mais velho da princesa Isabel, dom Pedro de Alcântara, com a família, a Sete Quedas, em 1926. Além de matar a curiosidade de quem não conheceu as magníficas cachoeiras que cederam lugar à usina de Itaipu, as fotos mostram os agora octogenários dom Pedro Gastão, que vive em Petrópolis, e dom João, que mora em Parati, ainda garotos.
A viagem da família imperial, que acabava de voltar do exílio na França, exibe o clima informal com que desbravava o interior do País. O material foi obtido com familiares do engenheiro Teixeira Soares, que acompanhou o passeio com suas três filhas. A mulher de dom Pedro, princesa Elizabeth, demonstra que também compartilhava o espírito aventureiro da família. Foi por causa dela, uma condessa tcheca sem o sangue azul, que a princesa Isabel exigiu que o filho abdicasse do trono brasileiro.
Quem vai bater o martelo é o leiloeiro Ernani, o mesmo que conduziu o leilão de livros e documentos realizado em março na Academia Brasileira de Letras com o acervo de Macedo Soares. Outras pérolas do leilão são cartas e manuscritos assinados por personagens históricos. Uma delas é o bilhete que Machado de Assis escreveu à amiga Maroquinha Jacobina Rabelo. "Acho-me doente e fraco", desabafou, em julho de 1908, pouco antes de falecer. Há uma carta do Barão do Rio Branco ao Visconde de Mauá, de janeiro de 1875. O barão fala da comissão recebida por um empréstimo contratado à Casa Rothschild. Rio Branco menciona ainda o que acabou sendo a causa da derrocada das finanças do visconde de Mauá, seu banco no Uruguai: "Estimarei que as complicações financeiras do Rio da Prata não lhe tirem a calma, antes pouco e seguro do que muito e perigosas eventualidades." Um dos documentos mais valiosos do lote, uma carta de dom Pedro II a sua única amante, a condessa de Barral, tutora de seus filhos, não poderá ser vendida agora, por falta de tempo hábil para autenticação, mas deverá ser disputada no leilão de agosto. "O imperador e a condessa passaram 30 anos juntos e houve muita correspondência nesse período", informa o colecionador.
