18/04/2001 - 10:00
O líder do bloco de oposição, senador José Eduardo Dutra (PT-SE), se enrolou todo, no final da tarde da terça-feira 10, ao buscar uma saída para a saia-justa em que foi colocado pelo colega Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Um dia antes, o líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), foi à tribuna tentar negar que contou a Dutra e a outros senadores, na véspera da sessão que cassou o mandato de Luiz Estevão, que tinha como extrair do painel eletrônico a posição de cada um dos parlamentares na votação secreta. Para sustentar sua versão, Arruda informou ao plenário que Dutra e o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) haviam desmentido as informações publicadas na última edição de ISTOÉ. Não foi bem assim. “É fundamental para as investigações que estamos fazendo na Comissão de Ética que o senhor confirme ou desminta esse trecho da revista que relata uma conversa que teria tido com o senador Arruda”, cobrou Antero. “Me recuso a fazer comentários de conversa de A com B ou de A com diversos senadores no recinto desta casa”, esquivou-se Dutra. Mesmo atropelando a defesa feita por Arruda, Dutra ficou mal com os colegas. “Ele fugiu da pergunta. A resposta dele não satisfez”, avaliou Antero. A exemplo dos procuradores da República Guilherme Schelb e Eliana Torelly, Dutra poderá ser chamado a revelar a verdade numa reunião secreta da Comissão de Ética.
Depois de dizer a senadores e a assessores que foi Arruda quem lhe entregou a lista com os nomes de todos os que votaram a favor e contra Estevão, ACM também quis tirar o corpo fora. Fez coro com Arruda e acusou ISTOÉ de mudar sua primeira versão em que afirmava que dois funcionários do Serviço de Processamento de Dados do Senado Federal (Prodasen) lhe teriam entregue a famosa lista. Mais uma vez, Antônio Carlos mentiu. Essa informação que atribuiu à revista foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo e, em nenhum momento, endossada por ISTOÉ. Na tentativa de escapar da Comissão de Ética, ACM negou que a nomeação da ex-diretora do Prodasen Regina Célia Peres Borges foi a pedido do líder do governo e do governador da Bahia, César Borges (PFL). “Apenas cumpri democraticamente a vontade dos funcionários do Prodasen”, disse o cacique baiano. Arruda não apenas havia dito a ISTOÉ que era padrinho da indicação de Regina, como também fez uma investida junto ao presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), para tentar mantê-la no cargo. Na época da votação que cassou Estevão, Regina era, como diretora do Prodasen, a principal responsável pelo controle do painel.
A primeira notícia, de que a senadora Heloísa Helena (PT-AL) teria votado a favor de Estevão, foi divulgada na coluna Ricardo Boechat, de O Globo. Na terça-feira 10, Heloísa contou que, na véspera da publicação da nota, tivera um sério desentendimento com Arruda: “Pode ter sido coincidência. Mas nós quebramos o maior pau na subcomissão que investigava Eduardo Jorge.” Na próxima semana, a Comissão de Ética tomará depoimentos e receberá laudos que poderão ajudar no aprofundamento das investigações.
Novo laudo – Na quarta-feira 18, os engenheiros de computação da Universidade de Campinas entregarão o relatório final sobre o painel eletrônico, que na primeira avaliação comprovou ser facilmente violável. No mesmo dia, o professor Ricardo Molina – perito judicial e foneticista da Unicamp – confirmará aos senadores que encontrou a palavra “lista” em novos trechos que conseguiu degravar da fita que registrou a conversa de ACM com os procuradores da República. Um dia depois, vai depor o jornalista Fernando César Mesquita, principal assessor de ACM, também presente na conversa. Como vários senadores governistas e de oposição, Fernando César também sabe como agiu seu chefe na operação que resultou na cassação de Luiz Estevão e, depois, na revelação de que teria uma lista com os votos dos senadores. Resta saber se ele vai romper o pacto de silêncio entre parlamentares e funcionários para empurrar a sujeira para embaixo do tapete e evitar a cassação do mandato de Antônio Carlos. Esse não é o único caso que corre o risco de ser abafado no Congresso.
Depois que uma operação de guerra comandada pelo Palácio do Planalto impediu a criação da CPI da Corrupção, as denúncias feitas na troca de chumbo entre ACM e Jader também correm sério risco de não serem apuradas. Na terça-feira 10, a Secretaria-geral da Mesa da Câmara arquivou o pedido de urgência para a instalação da CPI da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). No Executivo e no Ministério Público, no entanto, prosseguem as apurações sobre o desvio de R$ 1,7 bilhão da Sudam. “Estou ficando cansado disso tudo e já me perguntei se não é hora de voltar para casa. Não sou bandido! Eu não sou o lixo, sou o lixeiro”, desabafou o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, durante anúncio de novas medidas de combate à corrupção na Sudam e na Sudene, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. O presidente Fernando Henrique, que acompanhou a entrevista de Bezerra pela televisão, aprovou o desempenho de seu ministro. ACM tratou de tirar uma casquinha e virou suas baterias contra o próprio FHC. Foi o suficiente para o presidente mandar demitir os apadrinhados de Antônio Carlos em cargos federais na Bahia como as diretorias do DNER e do INSS. Mesmo tendo Bezerra assegurado que não há nas investigações sobre a Sudam acusação contra Jader, a cúpula do PMDB não gostou da divulgação de que o rombo no órgão é dez vezes maior que o descoberto no escândalo do TRT de São Paulo. A corregedora-geral da União, Anadyr Rodrigues, resolveu investigar o caso Sudam e designou um procurador só para cuidar do assunto.
As denúncias contra o clã dos Magalhães também estão na mira da Corregedoria da União. Na terça-feira 10, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), anunciou o envio de acusações escabrosas para Anadyr. Entre elas, um laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo que confirma a participação de executivos ligados a ACM na movimentação de contas bancárias fantasmas na Bahia, usadas para financiar a campanha do cacique baiano ao governo do Estado. Essas contas foram descobertas nas investigações sobre as operações financeiras do esquema comandado por Paulo César Farias, o Ex-tesoureiro de Fernando Collor. Outro caso: a remessa ilegal para o exterior de US$ 500 milhões pela construtora OAS, a empreiteira da família Magalhães. No centro do escândalo estava o empresário Raul Gigante, que está desaparecido. “Há suspeita de que ele foi assassinado. Isso precisa ser investigado”, afirmou Renan. Vai ser difícil manter tanta sujeira debaixo do tapete.