Prepare-se. O PC vai sofrer a maior mudança desde o lançamento do Windows 95, há seis anos. A explosão da internet, o surgimento de aparelhos digitais portáteis e sem fio e a febre da música e do vídeo pela rede são os responsáveis pelo terremoto que acontece nos subterrâneos da indústria de informática. As consequências começam a ser vistas nos novos sistemas operacionais da Microsoft e da Apple, programas que controlam todas as funções de um computador. No segundo semestre deste ano, a empresa de Bill Gates coloca nas lojas o novo Windows XP. As letras XP significam experience, experiência em inglês. Já Steve Jobs, da Apple, turbinou seus Macintosh com o Mac OS X. Nesse caso, o X é o algarismo romano dez. Um terceiro X acompanha em silêncio esse movimento. Ele vem do Linux, sistema operacional distribuído gratuitamente pela internet que, depois de conquistar as empresas, procura um caminho em direção ao usuário doméstico.

As palavras-chaves deste novo século são comunicar e compartilhar, onde quer que o usuário esteja. Em meados de 2000, a Microsoft começou a abrir seus produtos para que outras empresas pudessem produzir aparelhos e softwares compatíveis com seu Windows, instalado em 93% dos PCs do mundo. Câmeras de vídeo e de fotos digitais, dispositivos para tocar músicas em mp3, PCs de bolso, todos esses aparelhos poderão se conectar e trocar arquivos com um computador de mesa de modo muito mais fácil que hoje. Muitas funções, que só eram possíveis em um programa específico, como comprimir imagens para enviá-las por e-mail, poderão ser executadas no novo Windows.

Um dos destaques do XP é justamente o Media Player 8, dispositivo que executa aplicações multimídia. O áudio tem qualidade de CD, e os videos que rodarem em banda larga terão resolução próxima à do DVD. Quer mais? O Windows XP passou por uma cirurgia plástica. Sua interface está mais bonita, com a “cara” da internet. A navegação ficou mais fácil, com pastas e arquivos dispostos em menus verticais. A Microsoft, enfim, assumiu que, do jeito que está, o computador ainda é muito difícil de usar. Mais um ponto em comum entre o Windows e o sistema operacional da Apple, o Mac OS X. Os dois sistemas realizaram uma espécie de “convergência”, confirmando a internet como a mãe do computador do futuro.

Depois de 17 anos sem modificações radicais, a Apple mexeu profundamente no sistema que controla as funções de seus Macintosh. Mais do que acrescentar funcionalidades ao anterior Mac OS 9.1, a empresa da maçã partiu do zero para criar o Mac OS X. À primeira vista, o que mais chama a atenção no novo sistema operacional é a beleza gráfica inspirada na internet. O Finder, que funcionava como área de trabalho no OS 9.1, ganhou botões com cores vivas e translúcidas que permitem uma navegação como se o usuário estivesse na rede mundial.

Unix – Pequenas animações e efeitos de sombras em três dimensões tornam o programa um colírio para os olhos. Esteticamente, combinam com os Mac translúcidos com design inovador e as cores das balas Soft. A interface amigável, chamada Acqua, esconde o segredo da força do programa: o sistema operacional Unix, criado há mais de três décadas e popular entre cientistas, técnicos e grandes empresas por sua robustez e capacidade de processamento. A promessa da Apple é tentadora. O usuário gastará menos tempo com panes no sistema e terá mais velocidade e segurança. A Microsoft não ficou atrás. Criou um programa “resistente a panes”. Se tudo der errado e o computador travar, ainda assim é possível recuperar as informações que apareciam na tela antes da falha.

Mas há uma pergunta crucial que o consumidor se faz sempre que um novo software chega ao mercado: será preciso trocar de computador para usar os novos sistemas operacionais? No caso do Windows XP e do Mac OS X, a resposta é sim. Para provar o sabor da novidade será preciso torrar as economias. Quem já tem computador com Windows 98, ou versões mais atuais, pode instalar o Windows XP. Para os pobres mortais que ainda usam o Windows 95, nada feito. A configuração mínima para instalar o novo sistema operacional aumentou e muito. São necessários muita memória, bom espaço no disco rígido e processadores de alta velocidade para rodar o novo filhote da Microsoft. Caso contrário, muitas das novas funcionalidades correm o risco de não dar sinal de vida.

O Windows XP não é a única arma de Bill Gates na luta para manter seu latifúndio digital. O pacote de softwares de escritório Office, cujos programas estão presentes em nove entre dez PCs do mundo, sairá em versão XP até junho deste ano. Cerca de 200 milhões de pessoas usam os aplicativos de edição de texto Word, a planilha eletrônica Excel e o programa de apresentação PowerPoint como principal ferramenta de trabalho, segundo dados da Microsoft.

Uma das grandes atrações do Office XP é sua capacidade de reconhecimento de voz. “Você vai poder falar com seu computador, ditar textos e ordenar a execução de programas. A distância entre a computação e a comunicação vai acabar”, diz o brasileiro Henrique Malvar, pesquisador-chefe de processamento de sinais da Microsoft, em Redmond, cidade próxima a Seattle, nos EUA. O mais impressionante é que, além do inglês americano, o computador reconhecerá o japonês e um chinês simplificado, para começar. Não há ainda uma versão que entenda português. A Microsoft aceita de bom grado se alguém quiser desenvolver essa funcionalidade e promete incorporá-la ao Office XP. Outro destaque é o reconhecimento da escrita. Será possível usar uma caneta especial, ou o próprio mouse, para escrever sobre a tela em letra cursiva.

Barato – Quem não quer (ou não pode) gastar dinheiro tem uma opção mais em conta: o Linux, sistema operacional criado em 1991 pelo finlandês Linus Torvalds e distribuído de graça pela internet. “É ideal para quem busca estabilidade, desempenho e economia”, diz Sandro Nunes Henrique, principal executivo da Conectiva, empresa brasileira que distribui produtos Linux para a América Latina e ajudou a criar interfaces gráficas mais amigáveis.

O Linux não seria o que é hoje se não fosse a internet. Milhares de programadores do mundo todo aproveitaram o fato de os códigos do sistema serem abertos e começaram a melhorá-lo e a criar programas dos mais diversos tipos. O usuário pode baixar a versão 6.0 do Linux do site da Conectiva. Se quiser um manual e os quatro CDs com 1.100 programas, terá de pagar R$ 88. Além dos softwares que já vêm com o programa, há mais de 3 mil opções gratuitas que podem ser baixadas da internet. Se você está acostumado com o Windows, não há problema: é só escolher a interface gráfica que imita o sistema de Bill Gates entre as 14 disponíveis.

Mesmo que os consumidores optem por manter os sistemas operacionais com os quais estão acostumados, não há muita saída. A partir do meio do ano, os Macintosh já virão da fábrica com o Mac OS X. O mesmo vai acontecer com os fabricantes de PCs, que incluirão o Windows XP em sua nova geração de máquinas. Ou seja, mais uma vez a indústria dos computadores vai vencer no jogo do empurra-empurra de novos produtos.