11/04/2001 - 10:00
"Detenham Slobodan Milosevic e enviem-no à prisão.” Essa foi a primeira condição de uma lista entregue pelo governo americano à Iugoslávia para que fosse garantida ao país a ajuda financeira de US$ 50 milhões, além dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Na madrugada do sábado 31, a ordem foi cumprida com a prisão do ex-presidente iugoslavo em sua casa no bairro de Dedinje, depois de 36 longas horas de tensas negociações. Houve até uma rocambolesca tentativa de invasão da casa pela polícia. Milosevic, que dirigiu a Iugoslávia durante 13 anos, disse inicialmente que nunca se entregaria. Depois, ameaçou matar a esposa, Mirjana, e a filha, Marija, e se suicidar, seguindo a mesma sina do pai, da mãe e do tio. Nada disso aconteceu. O Al Capone dos Balcãs, acusado de corrupção e desvio de US$ 118 milhões de verbas, foi levado pela polícia da Sérvia num comboio de jipes. Pesam contra ele acusações de crimes de guerra contra os albaneses em Kosovo em 1999, além de atrocidades cometidas na Croácia (1992) e na Bósnia (1992-95). Guerras que mataram 200 mil pessoas e que podem levá-lo a julgamento no Tribunal Penal Internacional de Haia.
A prisão de Milosevic acabou escancarando as disputas políticas internas na Iugoslávia. O presidente iugoslavo, Vojislav Kostunica, admitiu que só foi informado do plano para render o líder sérvio 12 horas depois de iniciado. Kostunica lançou farpas contra a operação policial, reacendendo uma velha disputa com seu rival, o primeiro-ministro da Sérvia, Zoran Djindjic. O presidente iugoslavo disse que os US$ 50 milhões dos americanos é pouco perto do prejuízo causado pelas bombas da Otan.
Justamente porque previa um tiroteio doméstico, a presidente do tribunal de Haia, Carla del Ponte, aguardou alguns dias para anunciar a intenção de conseguir o processo de extraditação de Milosevic para a Holanda no menor tempo possível. O julgamento do ex-presidente iugoslavo em um tribunal internacional não é bem visto pela maioria dos líderes sérvios. Alguns de seus aliados ainda estão no governo e seu depoimento poderia detonar minas explosivas. Mas outros crêem que essa iniciativa poderá ser uma maneira de livrar a Iugoslávia do atoleiro em que se encontra. “Este país está sob uma dolorosa transformação. A prisão do ex-presidente é uma parte importante do nosso processo político. De agora em diante, teremos que explicar o que aconteceu nos anos Milosevic”, afirmou Pedrag Simic, conselheiro do presidente Kostunica.