11/04/2001 - 10:00
O Ministério da Educação escolheu duas escolas – a Ilê Ori, de Salvador (BA), uma parceria entre a secretaria de educação municipal e a ONG Projeto Axé, e a Escola Estadual Dario de Queiroz, de São Miguel Paulista (zona leste paulistana) – como modelos para a execução do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, iniciado em março. Uma equipe do MEC vai acompanhar, nos dois colégios, o treinamento de professores para a alfabetização de crianças. Os resultados serão repassados para outras escolas em todo o País. O programa pretende dar uma resposta ao problema de alunos de 14 e 15 anos matriculados na quinta ou sexta séries do ensino fundamental que não sabem ler e escrever. A situação – denunciada em reportagem de ISTOÉ em maio do ano passado – foi agravada com a adoção em escolas públicas da progressão continuada (aprovação por sistema de ciclos), que praticamente acaba com a repetência. A proposta é considerada eficaz por educadores, mas não estaria sendo aplicada de maneira correta. “Vamos detectar as dificuldades apontadas pelos professores para a alfabetização e desenvolver atividades que garantam a aprendizagem”, diz Walter Takemoto, diretor de Política da Educação Fundamental do MEC. O programa vai envolver 28 mil professores de 17 Estados.
Cordel – Dois educadores franceses, Jean Hébrand e Bernard Charlot, apresentaram sugestões a seus colegas brasileiros durante dois encontros em São Paulo para discutir o analfabetismo e o fracasso escolar, promovidos pela ONG Ação Educativa e a Faculdade Domus, respectivamente. A França enfrenta dificuldades hoje para alfabetizar filhos de imigrantes árabes e africanos, que não falam francês. Professor da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris e assessor do ministro da Educação francês Jack Lang, Hébrand lembra que vários tipos de mediações podem ser usados pelos analfabetos para conseguir ler. No Brasil, ele cita o uso positivo do cordel. “Pesquisas mostram que, no Nordeste, pessoas que não sabem ler conhecem de cor as letras desses folhetos”, observa Hébrand. Ele também sugere que a alfabetização no Brasil comece aos dois anos, como na França. Charlot, professor de ciências da educação pela Universidade de Paris, diz que os professores precisam conhecer a realidade de cada criança e o seu habitat. “Elas precisam entender o sentido de ir à escola. Os professores têm de ajudar o aluno a descobrir isso”, afirma.