11/04/2001 - 10:00
Numa tarde ensolarada de quinta-feira, funcionários de bancos estrangeiros, como o BBVA, JP Morgan, Lloyds, Citibank e BankBoston, entre outros, lotam um ônibus de turismo no centro de São Paulo e embarcam para um bairro distante – a Vila Mara – na zona leste paulistana. Quase uma hora depois, chegam na Escola Municipal José Américo de Almeida. Ali, alunos do ensino fundamental brincam e correm pelo pátio do colégio, cercado com grades e muros altos por causa da violência na região. No grupo estão economistas, executivos e operadores de mercado. Minutos depois, eles se encontram numa sala onde os estudantes – e, inclusive, pais – se divertem com jogos educativos, criados especialmente pelos voluntários para ensinar como administrar os recursos de um município e também da escola. Outros alunos vão para a sala de informática analisar uma planilha, na qual estão especificadas as verbas de uma prefeitura para gastos com educação, saúde, habitação, transportes e outros investimentos sociais.
Por meio de jogos – como o Ludo e o Banco Imobiliário –, os estudantes simulam a aplicação de recursos nas diversas áreas e fazem o remanejamento, quando necessário. Como se estivessem realmente à frente de uma prefeitura, deparam-se com problemas como epidemias de dengue, por exemplo, e são obrigados a correr atrás de recursos. Ao final, quem não cumpre promessas pode até sofrer um impeachment. E quem executa suas metas e garante o atendimento das necessidades básicas da população é o vencedor do jogo. “É bom aprender como o governo gasta o dinheiro do nosso imposto, pois assim ninguém vai roubar a gente”, diz a menina Deyse Ferreira da Silva, 13 anos, aluna da oitava série do ensino fundamental e filha de uma líder comunitária no bairro. “Não sabia que a cidade de São Paulo é obrigada a gastar 30% do orçamento com educação”, surpreende-se Rui Fernandes, 14 anos, também da oitava série. Anselmo Miranda, 41 anos, que faz filmagens em festas e tem duas filhas matriculadas na escola, acha que todos os pais deveriam aprender a administrar os recursos. “O problema é que nem todos os pais podem participar das reuniões para discutir essas questões”, lamenta Anselmo.
Participação – A Escola José Américo de Almeida é um dos 51 colégios públicos de São Paulo – a quase totalidade da periferia – que participam do programa Banco na Escola, mantido por nove bancos estrangeiros (fazem parte também o ABN, Bandeirantes, Chase Manhattan e Merrill Lynch). Eles vão investir R$ 1,5 milhão na iniciativa, mas o que mais chama a atenção é o fato de seus funcionários terem sido colocados à disposição para ensinar educadores e alunos a administrar. O programa é importante porque o governo, a partir de agora, vai mandar verbas diretamente para as escolas que estejam capacitadas a fazer o gerenciamento. Quarenta voluntários estão envolvidos, até agora, no projeto. “Brincando, as pessoas aprendem a usar corretamente o dinheiro público”, orgulha-se Julie Schlossman, economista que faz MBA na USP e trabalha no Merrill Lynch. Julie foi uma das criadoras dos jogos usados no programa. “Também vamos incentivar a formação de grêmios e a participação da comunidade na escola”, afirma Maria Cristina Maffeis, pós graduada em Sistemas e Métodos e funcionária do BBV. “Esses voluntários criaram instrumentos que permitem a qualquer pessoa no Brasil controlar os recursos da educação e participar da gestão da escola”, comemora a coordenadora do projeto, Cenise Monte Vicente. Agora, os paulistanos, por exemplo, poderão saber como a prefeitura aplica a verba anual de R$ 1,8 bilhão destinada à educação.