O governador do Rio, Anthony Garotinho, reagiu de modo surpreendente à reportagem publicada na última edição de ISTOÉ, denunciando o uso de dinheiro público na compra de presentes para amigos, parentes e correligionários – tudo comprovado por notas fiscais. Em lugar de prestar contas, no sábado 31 ele mandou seus assessores a um shopping. Dentre outras coisas, compraram um pijama e pediram que as notas fiscais fossem expedidas em nome do deputado estadual Paulo Ramos (PDT), seu atual desafeto político. O objetivo de Garotinho era provar que qualquer pessoa poderia ter comprado roupas infantis, coelhinhos de pelúcia ou gargantilhas – objetos-alvo da reportagem de ISTOÉ –, e colocar as notas em nome do governo. Foi um tiro no pé. “Mostrar o que qualquer um pode fazer não prova que ele não tenha feito”, critica o advogado Luiz Paulo de Castro, especialista em direito administrativo. Agora, além de continuar na obrigação de prestar contas, Garotinho poderá ser processado por falsidade ideológica. “Já pedi autorização ao presidente da Assembléia para processar o governador”, afirma o deputado Ramos. Na quinta-feira 5, a deputada Cidinha Campos (PDT) pediu a instalação de uma CPI para investigar os gastos de Garotinho.

Para não responder à acusação principal – o uso da verba do Gabinete Militar na compra de presentes –, os integrantes do governo se limitaram a discutir as questões acessórias. Garotinho informou que não deu a Sasha – filha da apresentadora Xuxa – um coelho de pelúcia, mas, sim, um par de brincos. A vice-governadora Benedita da Silva diz que o relógio recebido do governador não foi comprado na loja Amsterdam Sauer, e sim na Nathan e a senadora Emília Fernandes afirma que não ganhou uma gargantilha de ouro, mas um anel. Os funcionários do Gabinete Militar ouvidos por ISTOÉ, no entanto, confirmam que na época – julho de 1999 – as compras foram pedidas como presentes a Sasha, Benedita e Emília. Além disso, o governo não esclareceu quase nada quanto ao conteúdo das notas fiscais. A única exceção foi o caso de uma baixela e de um balde de gelo dados como presente de casamento ao deputado estadual Alberto Brizola. A chefe de gabinete de Garotinho, Ana Paula Costa, admitiu ter feito a compra, mas diz que a referência ao Gabinete Militar apareceu por erro de uma funcionária. “Estamos investigando para saber o que aconteceu com as outras notas”, diz Ana Paula.

Será difícil encontrar uma explicação convincente. O ex-governador Leonel Brizola se recorda de que em uma reunião ocorrida em 1999, Garotinho confessou o mau hábito de usar o dinheiro público de forma estabanada. “Garotinho disse que achava normal usar verbas do governo para comprar esses presentes e eu o repreendi”, lembra Brizola, que diz ter aconselhado o governador diversas vezes. Parece que Garotinho não aprendeu a lição