11/04/2001 - 10:00
Os lagos e riachos do noroeste dos EUA sempre foram recheados de sapos. O cenário mudou desde a década de 80, quando a população de anfíbios da região começou a diminuir. Cientistas da Universidade da Pensilvânia anunciaram na semana passada que acharam um culpado pela morte de centenas de milhares de embriões: a mudança climática decorrente do aquecimento global, que nunca foi tão acentuado quanto na última década. A culpa é de gases como dióxido de carbono e metano despejados na atmosfera, que impedem que o calor do Sol absorvido pela Terra retorne ao espaço.
O estudo publicado na revista britânica Nature revela que os embriões morreram pois o nível das águas diminuiu com o efeito estufa. Os girinos foram expostos aos raios do Sol, o que facilitou a disseminação de fungos letais.
Em 100 anos, a temperatura do planeta subiu 0,6o C, o suficiente para causar desastres naturais como a mortandade dos anfíbios. Desde 1960, a cobertura de neve no mundo diminuiu 20%, enquanto a espessura do gelo do Ártico caiu 40%. O nível do mar também subiu, colocando em risco cidades costeiras.
O maior passo para alterar esse quadro foi a criação do Protocolo de Kyoto, em 1997. O acordo obriga países desenvolvidos a reduzir a emissão de poluentes em 5,2%, em média, em relação aos níveis de 1990. Responsáveis por um quarto do CO2 despejado na atmosfera, os EUA teriam que cortar 7% das emissões. Com a renúncia do presidente George W. Bush ao cumprimento das promessas, o protocolo entrou num impasse.
O mundo todo chiou. Até nos EUA o anúncio foi mal-recebido. Pesquisa realizada pela revista Time e pela emissora de tevê CNN mostra que 75% dos americanos consideram o aquecimento global um problema “muito sério”. Apesar disso, 48% não aceitariam pagar nem 25 centavos de dólar a mais por um galão de gasolina. Em uma carta endereçada a Bush, personalidades como o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, o investidor George Soros e o físico Stephen Hawking pedem “consenso e ação” para combater o problema e solicitam um plano para reduzir poluentes.
A posição dos EUA pode ser uma tentativa de ganhar espaço para barganha na próxima reunião sobre o protocolo, que acontece em julho, na Alemanha. Enquanto a União Européia é adepta de um corte nas emissões de cada país, os americanos preferem adotar o plantio de florestas ou a compra de cotas de países que reduziram suas emissões além do necessário. “Os EUA querem incluir na conta até florestas já existentes em outros países”, diz Fábio Feldman, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Se depender dos americanos, o sequestro de carbono – plantio de florestas para absorção do gás – vai estourar. Nos próximos anos, esse mercado deve movimentar US$ 20 bilhões, o que dá espaço a empresas como a Ecosecurities, dirigida pelo engenheiro agrônomo e economista carioca Pedro Henrique Moura Costa. Sediada em Londres, a companhia planta florestas tanto em países industrializados quanto em nações pobres como Equador, Malásia e Uganda, para compensar as emissões desproporcionais. “Espera-se que Bush recue e proponha alguma alternativa ao protocolo”, arrisca Costa.