Desde os tempos de Je t’aime… moi non plus, a música pop francesa não fazia tanto barulho. A nova onda atende pelo nome de french touch (toque francês), estilo de som eletrônico que tempera o balanço da chamada house music americana com o irresistível charme parisiense. Cunhado pela imprensa britânica, o rótulo abriga bons grupos, entre eles a dupla Daft Punk, cujo segundo e aguardadíssimo trabalho, Discovery, ganhou lançamento mundial há um mês e já vem sendo cotado como um dos melhores discos pop do ano. Na mesma linha dos “Punks Dementes”, enfileiram-se o DJ Etienne de Crecy, com o CD não menos dançante Tempovision, e o fenômeno Modjo, dupla que emplacou o esquenta-pista Lady (hear me tonight). Desviando mais para o lado tecno-jazzístico, também acaba de chegar às lojas o álbum Tourist, do projeto St. Germain, um aglomerado de músicos liderados pelo DJ Ludovic Navarre. Outra prova de talento do novo som francês é a dupla Air, que, depois de conquistar Hollywood com a trilha sonora do filme Virgens suicidas, de Sofia Coppola, retorna em maio com seu delicado som retrô, todo à base de teclados antigos como melotron e moog, no álbum 10,000 hz legend.

Esta explosão teve um endereço – as badaladas noites Respect, que aconteciam às quarta-feiras no clube parisiense Queen. Foi para uma animada platéia GLS que em 1996 os DJs Guy-Manuel de Homem-Christo, descendente de portugueses, e Thomas Bangalter, do Daft Punk, começaram a testar sua bem-humorada mistura de funk e tecno, cheia de repetições e refrões contagiantes. Dois anos depois, adotando a estratégia de só aparecer em público usando máscaras, já haviam conquistado as pistas de dança e as paradas internacionais com o sucesso Around the world, do disco Homework. Agora, a situação se repete com a celebração chacolejante de One more time, primeiro sucesso de Discovery, no qual uma voz robótica se destaca da profusão de teclados, pedindo para “não parar a dança”.

À exceção de uma ou duas canções mais lentas, as 14 faixas de Discovery são a trilha ideal para animar qualquer festa, assim como Tempovision, de Etienne de Crecy. Ao preferirem a house music, os franceses se distanciaram do tecno radical praticado por similares ingleses e americanos e investiram em letras e melodias mais pops, defendidas por belas vozes negras. Mas o sucesso internacional das bandas do chamado French Touch guarda outra razão. Para desespero patriota da maioria da nação do croissant, o inglês sem sotaque das músicas tornou-se língua oficial.