05/01/2000 - 10:00
Para imaginar como serão as telecomunicações no século XXI, ninguém precisa fazer exercícios elaborados de futurologia, tentando visualizar a materialização de sonhos da ficção-científica como o comunicador do capitão Kirk na série dos anos 60 Jornada nas estrelas ou o relógio-telefone de Dick Tracy, o detetive dos quadrinhos da década de 40. Ambos já existem. Da mesma forma, ninguém precisa inventar um meio de comunicação que una de forma barata e imediata centenas de milhões de pessoas em todos os países. A Internet faz isso. As formas de telecomunicação que irão prevalecer na maior parte dos próximos 100 anos já foram criadas e passam agora por um aperfeiçoamento meteórico. A Internet é de 1969, mas só começou a se disseminar explosivamente a partir de 1993. O número de internautas na passagem do milênio supera os 300 milhões – oito milhões no Brasil – e espera-se que a cifra ultrapasse o primeiro bilhão antes de 2005. Bem antes disso, as pessoas estarão acessando a rede sem a necessidade de computadores plugados à linha telefônica. A Internet sem fio será uma realidade e muito mais veloz do que aquela que conhecemos e navegamos.
No caso do celular, inventado nos anos 80, ele foi artigo de luxo mas hoje é um bem de consumo cada vez mais acessível. Eventualmente, será tão barato que haverá mais telefones móveis do que aparelhos fixos. Isso já acontece nos países escandinavos, onde a taxa de penetração da telefonia móvel é superior a um celular para cada dois habitantes. Na gélida Finlândia, país com apenas cinco milhões de habitantes, existem 63 celulares para cada 100 pessoas. Estima-se que em 2003 o total de aparelhos ultrapasse o de finlandeses. Quando isso acontecer, haverá telefones em máquinas de venda automática de refrigerantes, doces, cigarros, etc. Bastará ao consumidor empunhar seu telefone diante da máquina, ligar para o número nela indicado e realizar uma transação sem fio para liberar uma latinha.
No Brasil vai acontecer o mesmo, mas não antes de 2007, ano em que, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, o número de celulares no País ultrapassará o de fixos. Naquele momento, o aparelho que você carregará no bolso, na bolsa ou na cintura será muito diferente do atual. Será um smartphone, um telefone inteligente. Dotado de pequeno monitor colorido e de uma microcâmera de vídeo, será usado para fazer compras, reservar passagens e hotéis, movimentar a conta corrente, ver trailers de filmes para decidir o que assistir no cinema, trocar correio eletrônico, navegar na Web, fazer videoconferência – ou simplesmente conversar com alguém.
Tudo no bolso – Os contornos tecnológicos finais dos celulares de terceira geração (ou 3G, a denominação formal dos futuros comunicadores) foram revelados à humanidade em outubro na Telecom 99, maior feira do setor, realizada em Genebra. Os aparelhos estão em testes em laboratórios de todo o mundo e serão pequenos computadores de bolso com mais funções multimídia que um Pentium III. Terão várias formas para agradar a todos os gostos – e bolsos. Para quem prefere equipamentos polivalentes e completos, o smartphone virá com teclado, gravador digital, rádio FM, calculadora e leitor de cartões inteligentes, os famosos smartcards. Para os que preferirem fazer videoconferência, existirão monitores destacáveis que acompanharão o celular. Quem adora sua agenda eletrônica poderá optar por um computador de bolso com monitor sensível ao toque, teclado e leitor de smartcard. Ele se comunicará sem fio com o celular, para acessar a Internet e realizar todas as funções de um smartphone. Modelos diferenciados, como os celulares de pulso, já começam a chegar às lojas, pelas mãos da fabricante coreana Samsung – que também acaba de lançar um celular equipado com uma micro tevê em cores.
Satélites – Se os aparelhos 3G mais sofisticados estivessem à venda hoje, custariam até US$ 2 mil. É caro, mas é para os públicos A e B. Quem quiser continuar falando com um aparelho tipo pré-pago não ficará de mãos abanando. Sempre haverá oferta. Quanto às tão faladas constelações de satélites de celulares mundiais, como a Iridium e a GlobalStar, não está claro se sobreviverão. Quando foram projetadas, no final dos anos 80, ainda não se vislumbrava a explosão dos celulares que veio a ocorrer. Hoje, encontram-se aparelhos para alugar em praticamente qualquer país. E sua tarifa é várias vezes inferior à cobrada pela Iridium, empreendimento ambicioso de US$ 5 bilhões que começou a operar em escala comercial em 1998 e seis meses depois já estava pedindo concordata. Bill Gates promete para 2004 uma megaconstelação com 288 satélites chamada Teledesic, voltada para a transmissão de dados e multimídia direto do espaço. Mas, como os celulares 3G já estarão de vento em popa, novamente não está claro se o negócio terá competitividade.