A Disney trocou o Mickey Mouse pelos roqueiros do Aerosmith e lançou uma montanha-russa de arrepiar a cabeleira. Batizada de Rock’n’Roller Coaster, a nova e mais radical atração do complexo de parques da Flórida está montada no interior de um imenso caixote de concreto e mostra a que veio logo de saída. Ao contrário da tradicio-nal e lenta subida que dá início à maioria das montanhas-russas, na Rock’n’Roller Coaster o trem, em forma de carrão rabo-de-peixe, acelera de zero a 96 km/h em apenas 2,8 segundos para mergulhar na escuridão dos trilhos ao som de um rock pesado composto especialmente para o brinquedo pela legendária banda americana Aerosmith. Depois de loopings, parafusos e curvas inesperadas, os visitantes em êxtase desembarcam parecendo-se com os roqueiros da banda: cabelos em pé, voz rouca e uma leve tontura.

A escolha do grupo como tema do brinquedo reflete uma tendência de diversificação que vem ocorrendo no parque de uns anos para cá. Para se ter uma idéia, na semana passada o Epcot começou a apresentar diariamente um grande desfile para o qual o famoso ratinho e seus colegas Pateta, Pato Donald, Minnie e cia. não foram sequer convidados. A festa, que tem por objetivo celebrar o ano 2000 todas as noites durante os próximos 15 meses, traz 120 artistas no comando de bonecos exóticos de seis metros de altura. Outros tantos tocam – e bem – tambores de variados tamanhos, numa percussão de ritmo africano. “A energia da performance humana é a essência do desfile”, explica o idealizador da parada Michael Curry. A declaração de Curry representa um distanciamento interessante das eternas cabeças de plástico dos bonecos da Disney. “No começo do parque, reproduzíamos o universo dos desenhos animados. Com a expansão, queremos agradar outros públicos”, declara Paul Pressler, presidente da Walt Disney Attractions.

É claro que o Mickey não foi abolido. A figura do camundongo continua espalhada por todos os cantos. O bombardeio da imagem estilizada com o rosto redondo e as duas orelhas é tão grande que depois do segundo dia no complexo de parques o visitante começa a enxergar a cara do personagem mesmo onde ela não está: no descompromissado conjunto de frigideiras penduradas na parede de um restaurante ou no desenho formado pela pia e as torneiras redondas do quarto do hotel. Mas as fantasias protagonizadas pelo ratinho hoje dividem espaço com linguagens mais adultas, como o Cirque du Soleil, a companhia de origem canadense que há 15 anos revolucionou a arte circense. Desde o ano passado, ela apresenta dentro da Disney seus surpreendentes espetáculos, que tiram o fôlego de qualquer pessoa.

No mesmo pedaço onde está instalado o circo, chamado de Downtown Disney, encontra-se a Pleasure Island (ilha do prazer), que em uma década de existência foi ficando cada vez mais apimentada. Ela abriga sete night clubs, que incluem a boate 8trax, lotada todas as noites por trintões e quarentões, órfãos das discotecas, que relembram numa catarse coletiva velhas coreo-grafias que só quem viveu a época conhece. Perto dali, dezenas de gays soltam a alegria na pista giratória da boate Mannequins. Como a Disney se tornou point gay? “Aqui, as pessoas aceitam melhor os gays, talvez pelo clima de fantasia que reina”, palpita o agente hipotecário Mark Bennett, 28 anos, que vai à Disney três vezes ao ano com seu namorado, Phillip Johnson, barman e marchand.

Durante o dia, também é possível garantir diversão longe da turma do Mickey. No Animal Kingdom, aberto no ano passado, os visitantes podem fazer um mini-safári e ver elefantes, girafas, leões, hipopótamos e zebras – todos de verdade. No ano passado, foi aberto ainda o DisneyQuest, um templo dos jogos virtuais. Tão engraçado quanto participar dos jogos é observar as outras pessoas brincando, com a cabeça coberta por capacetes imensos que mostram imagens de cenários fantásticos. Num dos brinquedos, as pessoas pegam espadas de “raio laser” iguais às do filme Guerra nas estrelas e lutam contra inimigos imaginários que aparecem na pequena tela dentro do capacete. Muitos visitantes têm estilo próprio e manuseiam a espada como samurais, cavaleiros da Idade Média ou mosqueteiros franceses. Na semana passada, o estilo que encantava a garotada da fila era o de uma senhora gorda, de seus 50 anos, que movimentava a arma em golpes nervosos e repetitivos, de cima para baixo, incessantemente. Ela batia com raiva, muita raiva, como quem dá pauladas num rato. Seria isso?