24/05/2013 - 20:40
Um novo efeito colateral da obesidade vem sendo desvendado. Estar acima do peso, para o paciente, significa receber menos atenção do médico. Quando é o profissional que está fora de forma, significa ser menos respeitado pelo doente. Em ambas as circunstâncias, quem perde é o paciente, que acaba recebendo um tratamento aquém do que deveria.
Na semana passada, a publicação de mais duas pesquisas reforçou a constatação. A primeira, feita pela Wake Forest Medical Center (EUA), apontou que dois em cada cinco estudantes de medicina têm preconceito contra obesos. Foram levantadas as percepções de mais de 300 alunos. “O preconceito afeta a prática clínica e o desejo de o doente ir ver seu médico”, disse David Miller, coordenador do trabalho. “O profissional assume que os obesos não seguirão o tratamento e está menos propenso a respeitá-los.”
BALANÇA
Depois que emagreceu, o pediatra Malanga
passou a ser mais respeitado pelos pacientes
O segundo trabalho registra a consequência disso. Realizado no Johns Hopkins Hospital (EUA), revela que pacientes com sobrepeso ou obesos trocaram mais de médicos ao longo de dois anos do que os com peso normal: 19% daqueles com sobrepeso e 37% dos obesos fizeram isso. Entre os motivos estão experiências negativas, como comentários maldosos de médicos e atendentes e conselhos não solicitados para perder peso. “Como trocam de médico com frequência, quase sempre terminam na emergência, vítimas de algo que poderia ter sido evitado”, disse Kimberly Gudzune, responsável pela pesquisa.
O endocrinologista Mário Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, vê casos parecidos. “Recebo pacientes que ouviram de outros médicos: ‘Você só resolve o problema quando perder peso.’ É a pior coisa que ele pode ouvir.” A dona de casa baiana Adriana Santos, 33 anos, 1,53 m de altura, e 100 quilos, ouviu de um médico que a dor que ela sentia só poderia ser tratada por “cadialina”, prescrito na receita. E explicou: “Você pega seis cadeados e coloca na boca, no armário, na geladeira, no freezer, etc.” Adriana processou o profissional por danos morais.
Uma pesquisa da Universidade de Yale (EUA) mostrou o outro lado da moeda. Os cientistas ouviram 358 pacientes e verificaram que eles tendiam a mudar de médico se o especialista fosse gordo. “O preconceito é tão grande que o paciente desconfia da capacidade desse médico”, disse Rebecca Puhl, líder do estudo. O pediatra Paulo Malanga fez uma cirurgia bariátrica para deixar de ser obeso mórbido e percebeu a diferença de tratamento. Quando tinha 160 quilos, era desrespeitado no consultório. Hoje, com metade do peso, isso acabou. “Lido com crianças, que falam o que estão pensando. Fui chamado de doutor gordo, tio pesadão, etc.”
Colaborou Tamara Menezes
Fotos: Science photo library/latinstock; Marcos Nagelstein