24/05/2013 - 20:40
Tragédias são terríveis sob qualquer ponto de vista, mas elas são menos dolorosas quando os chefes das nações atingidas reagem prontamente. O amparo do Estado, personificado quase sempre na figura do presidente, dá ao cidadão – seja ele vítima direta ou não dos acontecimentos – a sensação de segurança que não só alivia o sofrimento, como traz a certeza de que, afinal, o país está preocupado com ele. Para os líderes, responder rapidamente a uma catástrofe é uma atitude digna, mas também oportuna. Salvo raras exceções, eles melhoram sua reputação perante o público. Na semana passada, o presidente americano, Barack Obama, deu uma notável demonstração de senso político. Poucas horas após um tornado devastar a região de Oklahoma City, deixando um rastro de 24 mortos, entre eles nove crianças, além de mais de 230 feridos, Obama imediatamente se colocou ao lado das vítimas. “Vocês não atravessarão esse caminho sozinhos”, afirmou. “O país está com vocês.” O presidente disparou telefonemas para autoridades locais, deslocou o comandante da Agência Federal de Emergência à área atingida e, a mais importante de todas as ações, declarou “estado de desastre” na região, agilizando, assim, o envio de verbas federais. A presteza de Obama em situações de crise não é novidade. Às vésperas da eleição presidencial do ano passado, ele cancelou compromissos de campanha para monitorar os danos causados pelo furacão Sandy, que deixou 125 pessoas mortas, principalmente na região de Nova York, e prejuízos estimados em US$ 62 bilhões.
SOFRIMENTO
Casal se abraça durante uma pausa na busca por objetos pessoais
perdidos sob os escombros das residências destruídas pelo tornado
A agilidade de Obama é ainda mais emblemática se comparada à omissão de alguns de seus antecessores. O caso mais lamentável é o do republicano George Bush. Em agosto de 2005, quando o furacão Katrina atingiu os Estados Unidos, provocando a morte de 1.836 pessoas, o então presidente estava de férias em seu rancho no Texas. Bush, em vez de interromper a folga, ignorou a tragédia durante 5 dias, numa demonstração estúpida de insensibilidade. A paralisia custou caro. Depois disso, Bush viu sua popularidade despencar e há até quem coloque nesse episódio a conta pelos posteriores fracassos dos republicanos nas eleições para presidente. “A presença de um chefe de Estado após uma catástrofe pode nem resolver os problemas concretos, mas é essencial, do lado psicológico, para a população”, diz Williams Gonçalves, professor de relações internacionais da UERJ. Obama teve a sabedoria de captar a dimensão da tragédia. Até a quinta-feira 23, em meio a fortes chuvas, moradores ainda tentavam contabilizar seus prejuízos e procurar objetos pessoais nas casas destruídas pelo tornado. Com duração de 40 minutos, dois quilômetros de diâmetro e ventos de mais de 320 quilômetros por hora, o fenômeno natural provocou danos superiores a US$ 2 bilhões de dólares. Cerca de 12 mil residências foram totalmente destruídas ou danificadas, afetando diretamente mais de 30 mil pessoas. O governo americano garante que vai ajudar na reconstrução. “Os habitantes terão à sua disposição todos os recursos de que precisarem”, declarou Obama na terça-feira 21.
DESASTRE POLÍTICO
Governo do ex-presidente George Bush ficou marcado pela demora em enviar
ajuda às vítimas do furacão Katrina, que matou mais de 1.800 pessoas em 2005
Embora exemplar, a velocidade de resposta de Barack Obama talvez não se deva apenas a questões de caráter humanitário. Por trás da rapidez, pode estar a intenção de o presidente desviar o foco de outras tempestades que se abatem sobre o país, mais precisamente sobre a Casa Branca. Apesar de manter sua popularidade em 53%, o líder americano enfrenta uma tormenta de escândalos. Primeiro, ONGs denunciaram a Receita por discriminar grupos que tinham identificação com o “Tea Party”, movimento ultraconvervador ao qual Obama se opõe. Depois, apareceu o caso de grampos nas linhas telefônicas de repórteres da agência Associated Press. O episódio, que parecia isolado, revelou-se ainda mais sério na segunda-feira 20. Segundo denúncia do jornal “Washington Post”, o governo Obama monitorou também os telefonemas, a caixa de e-mails e até contatos pessoais com autoridades do repórter James Rosen, da Fox News, num claro desrespeito à Primeira Emenda da Constituição americana, que proíbe qualquer limitação à liberdade de imprensa. Como era de se esperar, a reação foi forte. “A administração Obama foi além de proteger os segredos do governo para ameaçar as liberdades fundamentais da imprensa”, publicou em editorial o jornal “The New York Times.”
A avalanche de escândalos não parou por aí. Na semana passada, a imprensa americana divulgou com estardalhaço a estranha – para dizer o mínimo – história do suspeito dos atentados em Boston que foi morto por uma agente do FBI durante um interrogatório. Segundo os policiais, o checheno e ex-lutador de MMA Ibragim Todashev, 27 anos, agrediu seu interrogador antes de ser alvejado por um tiro. Na quinta-feira 23, diante da enorme repercussão do caso, o FBI anunciou que irá apurar a fundo as circunstâncias da morte. Obama, porém, não se manifestou. É impossível saber se as turbulências que o presidente enfrenta em seu segundo mandato (muitas delas resultado de seus próprios erros) realmente motivaram a rápida reação à tragédia de Oklahoma. Por ora, o que se pode afirmar é que ele teve a sabedoria – e o senso de oportunismo – para socorrer as vítimas da tragédia.
Fotos: ADREES LATIF/Reuters; Chris Kleponis/AFP Photo; TIM SLOAN/AFP Photo