24/05/2013 - 20:40
O Brasil perdeu na semana passada um de seus mais ilustres jornalistas. Sócio e diretor do jornal “O Estado de S. Paulo”, o paulista Ruy Mesquita morreu aos 88 anos, vítima de câncer, na terça-feira 21, menos de um mês depois de ser internado no Hospital Sírio-Libanês. Até a véspera da internação, Ruy ia todos os dias à redação – nos fins de semana, trabalhava de casa. Dentro do jornal, onde começou aos 23 anos, passou pela seção do Exterior (hoje editoria Internacional) e pela sucursal do Rio de Janeiro, até chegar à direção. Nos anos 60, participou da fundação do “Jornal da Tarde”. Na infância, morou em Portugal, porque o pai, Julio de Mesquita Filho, fora exilado depois que o jornal apoiou a Revolução Constitucionalista de 1932. Durante a temporada de quase dois anos na Europa, tratou da paralisia infantil na perna esquerda, que o acompanhava desde os 3 anos, e tornou-se capaz de andar sem a ajuda de aparelhos. De volta a São Paulo, foi expulso do Colégio São Luís em 1938, porque os padres jesuítas discordavam da oposição do Estadão ao general espanhol Franco. Estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), cuja criação foi coordenada por seu pai. Durante o governo de Getúlio Vargas, Julio de Mesquita Filho voltaria a ser preso e exilado em Buenos Aires, e o jornal sofreria intervenções. Vargas sempre seria tratado como um inimigo pela família Mesquita.
Após a Revolução Cubana, em 1959, Ruy viajou a Havana para acompanhar o início do governo de Fidel Castro e acabou homenageado por ele diante de uma multidão na Plaza de la Revolución. Anos depois, passou a ser um crítico voraz do regime castrista. Alegando medo do avanço do comunismo no Brasil, participou da articulação do golpe militar em 1964, mas retirou seu apoio logo após a promulgação do Ato Institucional nº 2. Depois disso, o jornal passou um período sob censura, quando utilizou poesias e receitas de bolo nos espaços das reportagens censuradas. “Essa consciência de que o jornal tem de cumprir sua função social de contar a verdade para seus leitores, sem abrir mão de funcionar como arma na luta política na defesa dos nobres ideais da liberdade, continua a impregnar a tinta que circula em nossas rotativas”, escreveu em artigo publicado originalmente em 1998 e republicado pelo “Estadão” na semana passada. Ruy Mesquita era casado com Laura Maria Sampaio Lara, pai de quatro filhos (Ruy, Fernão, Rodrigo e João), avô e bisavô. A família Mesquita está à frente de “O Estado de S. Paulo” há mais de um século. O Grupo Estado hoje abrange, além do jornal, a Agência Estado e a Rádio Eldorado.
Foto: Caio Guatelli/Folhapress