03/11/1999 - 10:00
Está cada vez mais perigoso jantar fora em Manhattan. Existe restaurante na cidade cujo menu degustação inclui meia dúzia de chibatadas nos costados do gourmand. No La Maison de Sade, a especialidade é o rodízio de porradas. Enfim, uma casa procurada por seu péssimo serviço. Na mesa, entenda-se, a culinária de sotaque francês é correta – embora o steak au poivre seja apimentado demais. Mas, se a carne é macia no prato, o couro é rijo no pelourinho. Dominatrix e dominadores enfezados – uma gangue de mais de 20 – sentam o relho com gosto nos apreciadores do misto quente de dor e prazer. Nesse restaurante o pedido da “dolorosa” é levado no sentido lato, e látego, da palavra.
No salão principal, onde se come e se apanha, a decoração é uma corrente aqui, uma grande cruz de madeira ali, algemas jogadas. O ambiente é escuro, mas com luz que permite o reconhecimento de clientes e a devida apreciação das expressões de dor na cara dos sacrificados. Aqui impera a gerente drag queen Taly, que poderia estar na tropa de frente de um batalhão de fuzileiros navais. “Todas as noites recebemos um mínimo de 100 pessoas. Aqui satisfazemos todos os apetites de nossos clientes”, garante a voz rouca de Taly, ela mesma, uma expert no manuseio do chicote. “Dor e prazer são frutos da mesma árvore. Quem experimenta um não deveria recusar o outro. Experimente isso com nossa dominatrix”, comanda a fera.
Os que aceitam a intimação – e, acredite, eles são muitos – pagam o preço fixo de US$ 20 por especialidade. O cardápio para os masoquistas oferece as seguintes opções: chibatada, o malho desce até que se diga a palavra “mercy!”, ou se deixe cair ao chão um lencinho branco. Travestismo, onde homens ou mulheres se vestem como o sexo oposto e desfilam sob os olhos de uma platéia. Ser tratado como criança (com direito a sentar numa cadeira de bebê). E algo chamado de “humilhação pública”, que, a bem da verdade, pode ser qualquer das alternativas anteriores. Para os sádicos, há também uma escravinha que por US$ 20 se submete a umas pancadas. Os mais entusiasmados podem comprar souvenirs na butique. Acessórios têm preços que vão desde US$ 10 para um retentor erótico (nem pergunte o que é) até US$ 45 por uma coleira de couro cheia de pontas metálicas e corrente.
Infelizmente a cozinha do chef Andy Nguyen não é tão imaginativa, embora ele tenha uma sobremesa que envolve um sapato de salto alto e musse de chocolate. Ainda assim, mesmo que nenhum freguês esteja disposto a apanhar, haverá sempre dois shows por noite. A dupla Jessika & Jessika (uma bate, outra apanha) demonstrou técnicas de chicote de dar inveja a Indiana Jones. Para quem gosta de bordoada, La Maison de Sade é um prato cheio.