Storm é um detetive do futuro. Sua missão é combater os malfeitores que praticam crimes através dos computadores, trabalho que já fez para grandes empresas e até para o FBI. Além do codinome sombrio, que traduzido do inglês quer dizer “tormenta”, ele tem outra coisa em comum com os tiras saídos dos filmes americanos de ficção científica: gosta de vestir cores escuras – sempre que o frio permite arrisca até um sobretudo cinza-chumbo. Quando usa sua verdadeira identidade, Storm atende pelo nome de Wanderley de Abreu Júnior, um jovem carioca de 21 anos, de carne e osso, que estuda Engenharia Mecatrônica na PUC. Na última investigação de que participou, ajudou a Procuradoria de Justiça do Rio de Janeiro a identificar 27 pessoas que usavam a Internet para veicular fotos de pedofilia. “Esse foi o resultado do trabalho de um ano. Cheguei a ficar 48 horas seguidas à frente do computador”, conta. Os acusados tiveram suas máquinas apreendidas na sexta-feira 22, na maior operação desse tipo já feita no mundo.

Para se ter uma idéia do sucesso do trabalho, basta compará-lo à Operação Catedral, realizada na Europa em julho, que conseguiu identificar 100 pedófilos em 12 países. Na blitz do Ministério Público fluminense, chegou-se a 27 pedófilos apenas na área metropolitana do Rio de Janeiro. “Na verdade, identificamos 200 pedófilos, mas muitos estavam fora da nossa área de atuação. Muita gente de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul”, informa. O material apreendido é revoltante. Alguns usuários tinham até 20 mil fotos com crianças de idades variando entre 2 e 13 anos exibindo-se nuas ou praticando sexo oral. Nesse ano de trabalho, Storm teve muitos momentos de desânimo, principalmente quando a investigação esbarrava na lentidão dos ritos jurídicos. “Algumas vezes achei que o esforço não ia dar em nada”, lembra. O trabalho maior era entrar em salas de bate-papo na Internet para atrair pedófilos, que seriam posteriormente identificados. Acabou dando certo. “Essa investigação não seria possível sem a colaboração dedicada desse rapaz”, elogia Romero Lyra, procurador que coordenou a operação. Wanderley só foi remunerado pelo trabalho nos últimos seis meses, uma vez que teve de se dedicar exclusivamente à investigação desenvolvida pela procuradoria. Para o jovem detetive, mais importante que o dinheiro é o currículo.

Gênio – O apelido Storm tem uma origem prosaica. Veio de uma professora inglesa que na infância o achava levado demais. O jovem Sherlock cibernético praticamente aprendeu a ler e a escrever no teclado de um computador. “Ganhei o meu primeiro com seis anos.” Aos 11, já fazia os primeiros softwares num primitivo computador MSX – jogos que hoje ele classifica de inocentes, mas que fariam qualquer adulto comum quebrar a cabeça para copiar sua estrutura. Aos 16 anos, conseguiu o primeiro emprego: foi convidado para cuidar da segurança de uma rede de computadores. Aos 17, já começava a criar sistemas de segurança para grandes empresas e em pouco tempo seria chamado pelo FBI, o serviço de investigação do governo americano, para ajudar numa investigação para a polícia alfandegária. Há um ano, descobriu que os computadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) eram usados para distribuir material de pedofilia. Por causa desse trabalho, foi indicado à Procuradoria de Justiça do Rio para atacar os pedófilos.

O próprio Storm define-se como um hacker, expressão em inglês que ganhou o injusto – segundo ele – significado de “piratas que invadem os computadores alheios”. “Os hackers são, na verdade, gente que busca o conhecimento em qualquer lugar que ele esteja, seja ele legal ou não”, afirma. Com a técnica que possui, o rapaz seria capaz de invadir sistemas de computadores de alta segurança, como o do Pentágono, nos Estados Unidos, por exemplo. “Você chega a um nível que, se não agir ilegalmente, simplesmente pára de descobrir coisas novas.” Além dos sistemas de segurança, ele exercita seus conhecimentos dando palestras em cursos de pós-graduação da PUC, apesar de ainda não se ter formado. De geniozinho, além da cor branco-pálido de quem passa horas à frente de um computador, Storm tem poucas características. Usa e abusa das gírias, gasta o tempo livre para namorar e praticar atletismo e suas leituras preferidas não são os livros de fórmulas matemáticas, mas os de ficção científica – de preferência Isaac Asimov.

Projetos – Na área policial, seus objetivos são ambiciosos. Já tem pronto o projeto de uma Promotoria de Investigação Eletrônica, que poderia ser criada no Ministério Público fluminense. “Poderíamos desenvolver tecnologia para resolver não só crimes eletrônicos, mas também delitos comuns.” Relaciona vários dispositivos que poderiam ser usados na área de inteligência. Um dos mais fascinantes é o software denominado Tempest, que permite a qualquer notebook copiar a distância a tela de um computador localizado a vários metros, sem a utilização de fios ou conexões. Outra modalidade é o grampo telemático, que permite grampear modems de transmissão de dados. Essa opção de trabalhar contra os criminosos causa arrepios a sua mãe e ao pai da namorada, que pensam nas represálias que pode sofrer. “Tenho por trás de mim um esquema que garante minha segurança, mas eles me acham maluco por fazer esse trabalho.” Para explicar a paixão que o move nessa atividade, Storm assume uma postura que cairia bem para um daqueles personagens de filmes americanos. “O que me alegra é estar usando o meu conhecimento a favor dos justos e do bem.”