22/10/2008 - 10:00
O chef catalão Ferran Adrià, 46 anos, é um apreciador dos alimentos made in Brazil – especialmente de texturas, sabores e aromas da Amazônia. Maior expoente da gastronomia molecular, ele já usou ingredientes como o tucupi e polpa congelada de frutas tropicais em suas criações, no restaurante El Bulli – situado na Catalunha e trêsestrelas no Guia Michellin. O jambu (erva paraense) também o seduziu por seu efeito "eletrizante", que faz formigar a boca. Em sua passagem pelo Brasil – ele desembarca em novembro, como convidado do Semana Mesa SP -, pretende mergulhar ainda mais nesse universo. Além de visitar feiras e mercados em São Paulo e no Rio de Janeiro, irá à Amazônia.
ISTOÉ – O que mais o seduz nos produtos da Amazônia?
Ferran Adrià – Eles não existem em nenhum outro lugar do planeta. E conhecer um pouquinho deles implica enriquecimento pessoal e enxergar a natureza sob uma ótica completamente diferente. Seria estupendo contar com algumas dessas especiarias silvestres, poder trazê-las para a Europa e trabalhar com elas. Mas ainda é muito difícil importar. Acredito que os países emergentes, especialmente os sul-americamos e os asiáticos, vão dar as cartas na gastronomia no século XXI.
ISTOÉ – O que haverá de novo na temporada de verão 2009 no El Bulli?
Adrià – Nosso menu, composto por 35 pratos, será reformulado, como manda a nossa tradição. A novidade é que no ano que vem abriremos de meados de junho ao final de dezembro (antes funcionava de abril a setembro). Assim, vamos poder trabalhar com novos produtos a que até então não tínhamos acesso.
"Seria estupendo poder trazer especiarias do Brasil"
ISTOÉ – Ainda é preciso esperar cerca de quatro anos por uma reserva no El Bulli? Quanto custa?
Adrià – O cliente terá que enviar um fax ou um e-mail. Se não houver mesa disponível, ele pode entrar em uma lista de espera. Pagará 200 euros pelo menu, vinho à parte. As mesas estão contadas no El Bulli. Minha esposa só foi duas vezes (Adrià está lá desde 1984).
ISTOÉ – Como avalia a sua representatividade na gastronomia mundial?
Adrià – Na realidade, essas coisas são muito difíceis de considerar. É preciso uma perspectiva de tempo, que ainda não temos. Acredito que a filosofia seguida no El Bulli, desde meados dos anos 90, tem influenciado de certa forma a gastronomia atual. Mas, cada um do seu jeito, outros chefs também influenciaram.
ISTOÉ – Qualquer um pode ser chef?
Adrià – Basta sentir amor pela profissão e aprender as técnicas da culinária tradicional.