O País anda à procura de uma Seleção de verdade. Uma sequência de falhas de comando, temperada por uma arrogância poucas vezes vista numa comissão técnica, está construindo uma campanha caótica nas Eliminatórias-2002. Depois de cinco jogos, o Brasil patina no quinto lugar, com oito pontos. Se a competição terminasse hoje, a constelação de Luxemburgo teria de encarar o vencedor das Eliminatórias da Oceania em duas partidas de desesperados.

Um fato ocorrido após a derrota para os paraguaios dá a dimensão do inferno astral do grupo. Expulso após uma entrada grotesca no meio-campo Paredes, o lateral Cafu abandonou o barco e correu para os braços da família, enquanto os companheiros tentavam superar o abatimento para enfrentar a Argentina, na quarta-feira 26, em São Paulo. Logo ele, que fora bancado por Luxemburgo como capitão num episódio que levou Leonardo, que sonhava com o cargo, a abandonar a Seleção.

O episódio Cafu, como outros da administração Luxemburgo, ficou mal explicado. O técnico afirmou que o jogador pediu dispensa e condenou a atitude. “Se eu fosse o capitão, não faria isso.” A versão de Cafu é diferente. “O professor me liberou. Disse com essas palavras: ‘Tudo bem, garoto, pode ir.” Cafu mostrou fraqueza, mas isso não justifica o erro duplo de autorizar a saída do jogador e depois lançá-lo aos leões.
Foi apenas uma das trapalhadas. Luxemburgo recorreu a Aldair, que já havia anunciado a aposentadoria da Seleção. O zagueiro da Roma falhou feio contra o Uruguai e acabou sendo “despedido” pelo técnico, um desgaste que poderia ter sido evitado. Até agora, nenhum dos 12 homens de frente convocados conseguiu balançar as redes. Do banco, o meia Alex assiste impotente à correria improdutiva dos três volantes escalados. O bom futebol foi abandonado por jogadores sem confiança e empenho, comandados por um técnico empacotado em luvas e ternos bem cortados, como aqueles usados pelo proprietário de uma bem-sucedida agência funerária. “A bola queima no pé deles. Se essa tensão não for resolvida, a coisa vai ficar pior”, analisa o tetracampeão Zagallo. “Wanderley está desequilibrado espiritualmente”, avalia o médium Robério de Ogum, guru do técnico nos tempos do Palmeiras. “O clima está pesado. Se ele não buscar harmonia, não chegará às Olimpíadas.” Enquanto isso, pipocam na Internet campanhas a favor de Luiz Felipe Scolari e Levir Culpi na Seleção. Há quem diga que já se fala no assunto na CBF. Talvez seja oportuno, para Luxemburgo, ouvir o ex-assessor espiritual e o colega de profissão.