Semana passada, o rei Juan Carlos e a rainha Sofia, da Espanha, visitaram São Paulo. Mesmo longe de Madri, onde as bombas e granadas do grupo separatista ETA têm aterrorizado seus súditos, os monarcas resolveram se precaver. Os deslocamentos pelas perigosas avenidas paulistanas foram feitos a bordo de um BMW 750iAL High-security. A montadora alemã proclama o modelo como o mais seguro à venda no Brasil. Salgada proteção essa. O carro, na sua versão “básica”, com todas as taxas e impostos de importação, custa R$ 1,2 milhão. No ranking das máquinas mais caras comercializadas no País, o 750iAl deixou para trás a poderosa Ferrari 456 GT V 12. Preço da lenda italiana: R$ 874 mil. Só com o seguro, o dono dessa BMW vai gastar algo em torno de R$ 60 mil.
Mas o preço tem justificativa.

Há pouco menos de um mês no mercado, o 750 é um verdadeiro tanque de guerra de luxo. Blindado de alto a baixo, o terror dos terroristas é à prova de bombas, granadas de mão e minas. Tiros de fuzil AR-15, a arma preferida dos traficantes brasileiros, podem provocar, no máximo, alguns furos na lata que antecede à espessa camada de aramida, metal utilizado na construção de tanques e aviões de combate. O reservatório de combustível é revestido pelo mesmo material. Os vidros, preparados com lâminas de plástico especial e camadas de policarbonato, chegam a medir 11cm de espessura. A blindagem é Nível 7, o mais alto do mundo. O sarcófago metálico deixou o encouraçado alemão uma tonelada mais pesado do que seus irmãos da Série 7, a mais luxuosa da casa bávara. Apesar disso, os engenheiros da BMW garantem que o carro não perdeu desempenho. Equipado com motor V12 de 5,4 litros e 326 cavalos, o 750 High-security é capaz de ultrapassar a velocidade máxima de 200km/h.

A blindagem reforçada é apenas um dos vários itens de segurança desse sedã de alto luxo. Não é à toa que foi projetado para servir a embaixadores, chefes de Estado e personalidades do calibre do papa (o Vaticano, pelo que se sabe, ainda não encomendou um). Lançado na Europa no final de 1998, esse modelo já foi comprado por 350 milionários – 80 servem ao corpo diplomático americano, o mais suscetível às ações de grupos terroristas. Para garantir a segurança dos homens de Bill Clinton, o 750 é dotado de sensores que detectam a presença de gases tóxicos ao seu redor. Um sinal luminoso no painel comunica a ameaça ao motorista. Ele pode então acionar um sistema que fecha as entradas de ar externas do carro. No mesmo instante, é liberado oxigênio de dois reservatórios instalados no porta-malas. A capacidade dos tanques permite que cinco pessoas respirem por 15 minutos sem correr o risco de morrer envenenadas.

Cinema – Como em um carro de James Bond, não é preciso abrir os vidros do veículo para conversar com alguém que estiver do lado de fora. Microfones instalados nos retrovisores laterais captam a voz do exterior e a transmitem para o motorista. A resposta vem por um pequeno alto-falante também no retrovisor. Para completar o pacote, o tanque de luxo é calçado com pneus especiais. Furados por balas, podem rodar numa velocidade de 80km/h por mais de 200 quilômetros sem a necessidade de troca. A façanha é garantida por um reservatório de ar montado nas rodas do veículo.

Além do utilizado pelo rei Juan Carlos, só há um outro 750iAl High-security no Brasil. Ele está a serviço da Embaixada americana, em Brasília. Aos interessados, um aviso: o carro não está disponível nas concessionárias. É preciso encomendá-lo à matriz da empresa, na Alemanha. O prazo mínimo de entrega é de seis meses. A BMW está programando uma apresentação fechada do 750iAl a um seleto grupo de possíveis compradores do sedã. “É um cliente que não tem classe social definida. Estaria acima da AA”, diz Celso Fogaça, gerente de produtos da marca no Brasil. O carro do rei estará exposto até o final do mês no showroom da BMW, na badalada Campos do Jordão. Depois ele volta para a Alemanha. Os cuidados com o exemplar único são muitos. Tirá-lo da garagem do escritório central da fábrica? Nem se for só para uma voltinha no quarteirão. A alegação é a de que ele não tem seguro. Um arranhão, por menor que seja, numa lataria de R$ 1,2 milhão pode se transformar num grande prejuízo.