18/01/2006 - 10:00
Quero ser uma estrela pornô. Quero que homens se masturbem para minha imagem ao redor do mundo”, excita-se Nikki, estudante de cinema que, para pagar os estudos, acaricia senhores em uma sauna. “Eu adoraria fazer um filme pornô decente, à moda antiga, em película, cheio de erotismo”, planeja Sick Boy, ávido por faturar algum e emplacar seu audacioso projeto a partir de um set toscamente instalado em um pub de Edimburgo, na Escócia. É essa a trama que faz a galera junkie de Trainspotting – livro e filme – se reencontrar dez anos depois em Pornô (Ed. Rocco, 565 págs., R$ 62,50), novo livro de Irvine Welsh. Os diálogos chulos e a fartura de entorpecentes levam o leitor para os meandros da indústria pornográfica, ali descrita como marginal, rude, viciada.
A aventura deliciosamente safada remete à trajetória cumprida por aqueles que, em 1920, captavam imagens obscenas em bordéis e as exibiam em cineclubes. Meio século depois, o submundo fetichista se espalhava pelos Estados Unidos: o mito Garganta profunda foi rodado em seis dias em 1972 e consumiu US$ 24 mil para arrecadar US$ 600 milhões. Foi o primeiro êxtase de uma indústria que, em 2005, pode ter girado US$ 4,3 bilhões nos Estados Unidos, quase a metade da bilheteria de Hollywood, segundo a AVN (Adult Vídeo News), publicação que organiza o AVN Awards, Oscar do setor, entregue em Las Vegas no sábado 7. Apresentado por Jenna Jameson, sumidade do pornô atual, o evento premiou diretores, produtores, atores e atrizes em 104 categorias que incluem a melhor cena coletiva e a melhor performance transexual.
Comparar a maioria das produções brasileiras com a grande vencedora do AVN deste ano, The new Devil in Miss Jones, torna inevitável algum constrangimento. “Muitos filmes nacionais são amadores. O cara leva um casal para um motel e grava a transa com uma câmera vagabunda”, condena o diretor José Gaspar. Com sete anos de experiência, ele implica com a falta de profissionalismo. “Em muitos sets, o ambiente é grotesco, com iluminação malfeita e atrizes feias”, diz. Há dois anos, Gaspar contribui para mudar esse conceito. Foi ele quem dirigiu Alexandre Frota e Rita Cadillac nos filmes mais festejados da líder Brasileirinhas. As cenas de sexo protagonizadas por artistas egressos da tevê excitaram o comércio. Sócio da Unifilme, maior loja especializada do País, Danilo Caldeira afirma que seu faturamento cresceu 37% no ano passado. “Enquanto a maioria das fitas custa R$ 40 e vende 2 mil cópias no Brasil, o filme da Vivi Fernandez custa o dobro e ultrapassa 40 mil unidades”, diz.
Especula-se que a veterana Rita Cadillac tenha faturado R$ 350 mil por um único trabalho, surpreendente quando se sabe que 99% das atrizes pornôs ganham menos de R$ 1,5 mil por filme. Mayara Rodrigues, que já atuou em cerca de 300 filmes em sete anos de atividade, comemora: “Gravávamos em motéis de quinta categoria. Agora, só nos melhores.” Símbolo da nova fase, Alexandre Frota gaba-se de seu papel. “Sou um divisor de águas. Nunca essa indústria teve tanto espaço na mídia”, diz. Ele tira de letra o preconceito e jura que a tevê é coisa do passado. Sua meta atual é emplacar um filme no AVN Awards. Quem sabe em 2007?