05/07/2000 - 10:00
Quem tem não vende. Quem procura não acha. O culpado? Nizan Guanaes. Desde que o publicitário baiano escalou Micky como garota-propaganda do portal iG, do qual é sócio, os west highland white terrier, da mesma raça da cadelinha americana (sim, o cachorrinho do iG é ela), sumiram da praça. Micky virou moda e o iG, sinônimo da raça. Encontrar um exemplar da espécie é tarefa que requer paciência e, sobretudo, dinheiro. É difícil mesmo resistir ao charme de Micky, branquinha, fofinha, peludinha. Pet-shops chiques e criadores foram obrigados a abrir listas de espera, tal o número de interessados pelo cãozinho. E o preço subiu. Não se paga menos de R$ 2,5 mil por um iG. “A idéia era usar um mascote que as pessoas tivessem vontade de pegar no colo”, diz Guanaes.
A seleção da cadela-propaganda foi tão rigorosa que a produtora Bia Aydar só foi encontrar o tesouro em Hollywood. Apesar do trabalho no Brasil, Micky continua morando em Los Angeles, onde nasceu. Enjoada, a cadelinha só come uma iguaria: pulmão de carneiro. Ela tem seis anos e nunca cruzou. Sua dona e adestradora, Jeanimne Albaneze, não a criou para ter filhotes. Como toda estrela, Micky comparece a uma sessão de fotos ou gravação de comercial sempre acompanhada de seus seguranças e treinadores. Não é muito de badalação. Até agora, a festa de lançamento das fotografias de Gisele Bündchen no site Morango, em janeiro, foi o único evento que contou com o privilégio de sua presença. Atenta aos nomes que emergem nas colunas, a socialite Vera Loyola já convidou Micky para a cerimônia de casamento de sua cadelinha Pepê, em outubro, com o yorkshire Winner.
O contrato assinado com o iG impede a dona de Micky de dar entrevistas. Desde que estreou na rede, duas semanas após a abertura do portal, perguntas só são respondidas se passarem pelo crivo de Bia Aydar. A intenção é manter a privacidade da cachorrinha, cujo rendimento é de US$ 5 mil por mês, o equivalente a quase 60 salários mínimos.
Dinheiro, aliás, foi o motivo dos boatos de que Micky teria sido demitida pelo iG há um mês. Impressionada com o crescimento do portal, a treinadora Jeanimne estaria exigindo aumento de cachê. Bia desmente. “É comum nos Estados Unidos as pessoas ganharem ações das empresas para as quais prestam serviços. Era o que Jeanimne queria e não aceitamos. Chegamos a um acordo com um contrato de cinco anos”, garante Bia.
Como estrelas são temperamentais, o iG se precaveu e comprou três filhotes da mesma raça de Micky. Segundo Nizan Guanaes, a medida foi tomada em virtude da dificuldade de ter a titular sempre por perto. Los Angeles é longe e a agenda da estrela com divulgação de produtos está lotada. Além dos cachorrinhos de pelúcia, o portal se prepara para vender camisetas, cadernos e canetas com a imagem da cadela. Talvez seja a única forma de ter algo parecido com a verdadeira Micky. “Perdi a conta de quantas pessoas procuram por esse cachorro. Uma mulher chegou a oferecer R$ 3 mil. O criador está vendendo antes mesmo de o filhote nascer”, diz Igor Pereira, 25 anos, dono da The Pet from Ipanema, badalada pet-shop do Rio.
O west highland nunca foi um cão barato. Um filhote fêmea, antes da febre do iG, custava em torno de R$ 1 mil. O empresário paulistano Otto Bichucher, 34 anos, desembolsou US$ 2 mil (quase R$ 4 mil) por Ralph, hoje com seis meses e pêlos cortados. Cansado de procurar no Brasil, resolveu o problema em Nova York. A filha Fernanda, dez anos, agradeceu. “A alegria dela não tem preço”, justifica o pai. Para aumentar o desejo dos aficionados, no Brasil há poucos criadores da raça. A Confederação Brasileira de Cinofilia estima que não passem de 20.
“Hoje, os filhotes são vendidos na barriga da mãe. Não preciso nem colocar anúncio no jornal”, diz Marlene Morais, 50 anos, a feliz proprietária das fêmeas Diny, Aché e do macho Johnny. Os filhotes de Marlene custam entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil. Ela já abriu um champanhe em homenagem a Nizan Guanaes.