No troca-troca de partidos do Congresso, o PSDB do presidente Fernando Henrique não quer ficar atrás. Depois de perder tucanos de peso, a cúpula do partido comemorou em alto estilo a filiação dos deputados paraibanos Inaldo Leitão e Ricardo Rique. A festa, organizada pela mulher de Rique, a atriz Kristhel Byancco, inaugurou uma nova fase do partido. A esfuziante Kristhel, que também assinou a ficha do partido, caprichou no rapapé. Para receber seus correligionários, a atriz – que fez uma ponta na novela global Barriga de aluguel e ficou nua na peça Luz del Fuego –transformou os jardins de sua mansão no Park Way, em Brasília. Colunas greco-romanas feitas de fibra de vidro foram instaladas ao lado da piscina de onde saía gelo-seco perfumado. Duas mulheres vestidas de verde e amarelo faziam as vezes de estátuas e chegaram a confundir o líder do partido na Câmara, Aécio Neves (MG). Só o convite para a festa já causou o maior frisson no Congresso. Deputados de todos os partidos disputavam a tapa uma cópia para ler o inspirado texto da atriz: “Kristhel irá realmente celebrar este acontecimento como o renascer de uma nova geração de líderes abençoada por talentos e determinação.” Minutos antes de receber seus convidados, Kristhel deu a seguinte entrevista para ISTOÉ.

ISTOÉ – Por que esta festa toda para comemorar a sua filiação e a do seu marido ao PSDB?
Kristhel Byancco

Esse é um grande acontecimento social e político. É o meu entrée em Brasília e eu quero chegar com o pé direito, cheia de nuances, com beleza e grandiosidade. Brasília é um lugar fantástico e muito misterioso. Eu vou ser feliz aqui. Vocês não têm dimensão do que é sair do PMDB e ir para o PSDB na Paraíba. É uma revolução. Eu quero iniciar o ano que vem com muitas vitórias. Por isso que fiz esse pátio greco-romano, lá aconteciam as grandes decisões.

ISTOÉ – E por que o srs. saíram do PMDB?
Kristhel Byancco

Questões de falta de unidade, falta de amor.

ISTOÉ – Seu marido terá mais espaço no PSDB?
Kristhel Byancco

Esperamos que sim. Ele é muito amigo de Tasso Jereissati (governador do Ceará). O Tasso é nosso sócio em alguns shoppings (cadeia Iguatemi). Nós estamos nos apresentando com grandiosidade porque nós somos grandes, e para os grandes sempre tem lugar. Mas não é grande por riqueza. Grande de coração, de decisões e de idéias.
 

ISTOÉ – O que a sra. pretende fazer em Brasília?
Kristhel Byancco

Sou uma mulher extremamente iluminada. Tenho o dom de cativar as pessoas, de ser transparente. Minha grande vitória é essa. Conquistar a alma das pessoas, o olhar das pessoas. Foi assim quando eu cheguei à Paraíba. Quando eu sabia que tinha alguém comentando que eu era a atriz que tinha feito uma peça nua, eu ia lá e conquistava o coração e a mente daquela pessoa. Hoje eu sou uma pessoa amada, respeitada, sou cidadã paraibana.

ISTOÉ – Como a sra. conquistou o povo paraibano?
Kristhel Byancco

Eu tinha terminado de fazer uma novela (Barriga de aluguel), o meu personagem, a Deyse, era muito sensual, e eu fui parar no palanque do Ricardo. Subia no caminhão para fazer shows e para cantar. Fui me doando. Eu não tenho dificuldade nenhuma de fazer contato com o povo. Acho que o que se paga, não se conquista, o que se lança com amor, com transparência, você conquista. Eu ia, ia, ia e quando vi que estava vencendo o preconceito, isso foi me dando tanta força, foi transformando o meu ser. Como é bom conquistar a alma das pessoas! Arnaldo Niskier (atual presidente da Academia Brasileira de Letras) leu o meu livro, o Vôo de uma estrela, e disse para mim: “Kristhel, você é uma pastora de almas.” E eu fiquei tão feliz por isso, porque o que eu mais queria era ser uma pastora de almas.

ISTOÉ – Sobre o que é seu livro?
Kristhel Byancco

Poemas. Sobre vida, solidão, amor, medo, religião, paixão, sobre tudo isso. Eu lancei meu livro na Academia Brasileira de Letras e a Rachel de Queiroz leu um poema meu, Luz de uma estrela. Para mim não tem nada que pague aquele momento sagrado. Eu ali junto com os imortais e ainda José Neumane Pinto, que é um grande poeta, um grande jornalista, escreveu sobre o meu trabalho. Isso não tem diamante que pague, ter isso guardado nas minhas lembranças, no momento em que eu estava buscando que as pessoas dessem o valor que eu tinha. Porque de repente a própria arte até hoje é preconceituosa. Até hoje as pessoas sofrem preconceito porque fazem um personagem que não está dentro dos nossos padrões.

ISTOÉ – Qual é a sua missão no PSDB?
Kristhel Byancco

Eu vou continuar fazendo o que eu faço, independente de partido. É um momento em que as pessoas estão saindo do PSDB. Momento em que o presidente está com 68% de não-aprovação. Mas eu acredito no Fernando Henrique. Ele não é o culpado de tudo isso. São os partidos que são culpados de o Brasil não estar melhor, por causa dos interesses de cada um. Eu tenho o maior orgulho de ter ele e a dona Ruth como o casal que representa uma nação tão cheia de nuances, tão cheia de vida. Esse sociólogo, essa professora. Essa mulher é fantástica.

ISTOÉ – A sra. conhece pessoalmente a primeira-dama?
Kristhel Byancco

Não, mas eu sinto no olhar que ela é maravilhosa. Eu gostaria de poder ajudar na parte social. Se eu não tiver espaço para ajudar no PSDB, nas comunidades solidárias, qualquer coisa dentro da filantropia que é a arte que eu sei fazer, eu vou ficar muito triste e não vou ficar em Brasília. Por mais que eu ame meu marido, não posso me calar, não posso matar os meus sonhos, e ele sabe disso. Por isso que estamos lutando para que eu possa fazer um bom trabalho, para que possa conhecer a dona Ruth. Quero ser para ela uma companheira, uma amiga que possa ajudar a desenvolver projetos no Comunidade Solidária.

ISTOÉ – A sra. quer ter uma função no Comunidade Solidária?
Kristhel Byancco

Pode ser. Quero poder contribuir com o que eu tenho. Eu tenho o dom da doação, do amor, do carinho. Gosto de tratar de crianças aidéticas, cancerosas, gosto de descobrir talentos nas ruas. Estou desenvolvendo um trabalho que chama Lixo é luxo. A gente troca cestas básicas por alimentos não perecíveis e ensino as crianças a fazer esculturas com o lixo reciclável. É bem lindo.

ISTOÉ – Como é o projeto?
Kristhel Byancco

Por exemplo, eu estou trazendo para cá, na próxima Casa Cor, esses materiais reciclados. Dia 11, nós vamos fazer um desfile e eu desenhei uma coleção de roupas. Tenho muitos planos, muitos sonhos, luto por eles. Acho que você tem de fazer tudo para conseguir atingir seus objetivos com amor. A gente tem de ter amor ao próximo.

ISTOÉ – A atuação social do governo é fraca?
Kristhel Byancco

Dona Ruth faz um belo trabalho. Por isso que eu quero ficar ao lado dela. Acho-a uma senhora distinta, inteligente. E eu quero só estar ao lado de pessoas inteligentes e sábias. É só assim que eu vou crescer.

ISTOÉ – E a sra. vai procurá-la?
Kristhel Byancco

Vou procurá-la e dizer: “Olha aqui ó, eu sou uma soldado da sua luta.” A vida para mim não tem nenhum sentido se eu não fizer meu trabalho social. Eu não tenho outros planos a não ser continuar me doando. Porque quanto mais eu me dôo, mais eu me sinto maravilhosa, mais eu me sinto poderosa. Quando você doa de coração amor para as pessoas pobres, a gratidão que elas têm com você é tão grande que transforma você em poderosa, em amorosa, em bela. Eu não nasci para ser socialite, sou uma menina simples, de família simples.

ISTOÉ – Como é conciliar a sua necessidade de ajudar aos pobres e, ao mesmo tempo, viver cercada de tanto luxo? Isso não gera nenhum conflito?
Kristhel Byancco

Eu acho que só pode doar quem tem de sobra. Eu gostaria que todas as pessoas, e é isso que eu quero lutar com o empresariado, tirassem um pouco para dar aos pobres. Não têm incentivos do ICMS, não têm incentivos para a arte? Que também se façam programas de assistencialismo.

ISTOÉ – O que a sra. acha do projeto do senador Antônio Carlos Magalhães para erradicar a pobreza?
Kristhel Byancco

Eu não gostaria nem de falar sobre isso. É preciso ter programas mais simples e mais objetivos. Por exemplo, o potencial do Nordeste é a arte e o turismo. Tem de pegar as comunidades carentes e desenvolver o artesanato profissional para exportar. Aquela peça Cabra da peste já foi premiada no mundo inteiro. Nós temos esses dons. E por que não usar esses dons nas comunidades carentes, descobrindo talentos? O Exército pode ajudar para transportar, para dar um pouco mais de segurança ao nosso país.

ISTOÉ – Como a sra. conheceu seu marido?
Kristhel Byancco

Eu estava no Rio de Janeiro fazendo uma peça muito polêmica, Luz Del Fuego. Um dia eu estava descendo as escadas do hotel Méridien e ele, que já havia tomado uns golinhos, falou que ia se casar comigo. Eu pensei: “Que loucura, o homem falando isso comigo.” No dia seguinte era outro homem. Eu estava à beira da piscina e ele apareceu sem barba e começou aquela paquera. Aí logo pintou aquela paixão e em dois meses eu estava casada com ele. Eu nem o conhecia direito, mas eu tinha uma vontade muito grande de casar, de ter filhos, de ter lar. E esse homem estava super a fim de ter tudo isso comigo. Tanto fui apaixonada e me decepcionei, e por que não? E me fascinava o desafio daquele homem que tinha o sonho de ser político.

ISTOÉ – Os srs. estão juntos há quanto tempo?
Kristhel Byancco

Oito anos. Me apaixonei por ele, e depois virou amor, amizade, cumplicidade. Nós somos almas gêmeas. Na época eu era contratada da Globo, trabalhava em televisão e ele disse assim: “Eu quero que você largue tudo. Eu quero me casar com você. Vamos fazer uma turnê na Europa.” E fomos. Quando a gente voltou, resolvemos nos casar.

ISTOÉ – Por que a peça era polêmica?
Kristhel Byancco

Era a história da Dora Vivac-qua, uma mulher de família riquíssima que fazia um show com uma serpente. As pessoas começaram a estranhar: como eu, uma pessoa tão bonita, pegava em cobra? E eu achava supernormal. Que preconceito é esse com um animal que foi Deus quem fez. Há quatro anos eu me converti à religião evangélica e fui entender o encantamento e o porquê dessa repulsa tão grande pelo animal cobra. O demônio entrou na serpente e fez com que o homem pecasse.

ISTOÉ – Em sua carreira artística a sra. fez muitas cenas de nudismo?
Kristhel Byancco

Não. A única cena que eu fiz foi essa. Nunca vi uma peça para dar tanto retorno de mídia, mas também para dar tanto sofrimento. A única coisa maravilhosa dessa peça foi que eu conheci meu marido. Ele se apaixonou pela Luz Del Fuego. Depois ele patrocinou a peça.

ISTOÉ – O poder a fascina?
Kristhel Byancco

Até agora não senti nada. Nada me deixa desequilibrada. Eu fico com medo do poder porque as pessoas perdem a noção de valores. Nós estamos aqui por causa desse povo que não sabe nem ler, que não sabe nem o que escreveu naquele papel branco. Vamos fazer alguma coisa por eles, sem pensar nos nossos brios, no nosso orgulho, no poder.

ISTOÉ – A sra. pretende se candidatar?
Kristhel Byancco

Não. Ricardo já está ali. Eu estou perto dele, estou perto do poder. Eu gosto mesmo é de ser amiga das pessoas que podem me dar o direito de resolver as coisas. Eu nasci com o dom de cuidar das pessoas. Meu avô, o coronel José Regina, sempre nos ensinou a trabalhar com a pobreza. Aos dez anos já costurava para os favelados. Adoro cuidar de machucados de pessoas. Eu nasci para ser enfermeira. Enfermeira da alma e enfermeira do físico mesmo.

ISTOÉ – A sra. se acha diferente?
Kristhel Byancco

Sou colorida. Cheia de efeitos especiais, cheia de sonhos. As pessoas que se vestem do que não são tornam-se falsas, medíocres. No primeiro mandato do Ricardo, eu gastei um dinheirão mandando fazer uns tailleurs caretinhas. Não aguentei um mês. Ele mesmo perguntou se eu estava doente.

ISTOÉ – A sra. acha que seu estilo pode chocar Brasília?
Kristhel Byancco

Quando você tem dignidade, não choca. Quer uma mulher mais exótica do que a Marita Martins (mãe do senador Luiz Estevão). Aquele cabelo maravilhoso, aquelas rosas parecendo um repolho. Eu a acho o máximo.

ISTOÉ – Mas o padrão das mulheres de parlamentares é outro.
Kristhel Byancco

Mas eu não quero ser padrão de mulher de deputado. Eu quero ser a Kristel, a atriz. Meu marido virou deputado por acaso. Eu não casei com o deputado, casei com Ricardo, o meu Ricardo, o meu chuchu, o meu tico-tico. Foi por eu ser assim que nós tivemos 70 mil votos na Paraíba. Ele enfartado e eu na campanha. Me chamavam até de Evita do Sertão. Meu povo me adora com as minhas jóias, meus chapéus, meus sapatos, e é isso que importa.

ISTOÉ – A sra. acha que pode ajudar a levantar o astral do PSDB?
Kristhel Byancco

Fiz essa festa para mostrar para o presidente que não existem só pessoas que criticam. Existem pessoas que acreditam e que querem dar a mão e seguir em frente. Avança Brasil, vamos avançar o Brasil. O Brasil é lindo e eu vou fazer tudo para conquistar o coração da dona Ruth e do Fernando Henrique. Eu vou me doar para eles.