Em reuniões reservadas com os poucos aliados que ainda lhe restam, o ex-governador José Serra mostra-se obstinado a reverter sua decadência política. Mas as estratégias adotadas por ele para sair do limbo não vêm dando certo e o tucano só tem encolhido politicamente. Desde que deixou o comando do governo paulistano para disputar sem êxito a Presidência da República, o tucano assiste à debandada de aliados sem ter cargos ou outros benefícios para conter essa sangria. Diante desse cenário nada alvissareiro, Serra tumultua as fileiras do PSDB até ter as suas demandas atendidas ou deixar a legenda para um enveredar por mais um projeto próprio. O primeiro passo oficial foi dado na quarta-feira 17, com a criação de um novo partido, o MD (Mobilização Democrática). A legenda, resultado da fusão entre os nanicos PPS e PMN, já nasce sob a órbita do ex-governador de São Paulo. Foi fomentado pelo deputado federal Roberto Freire, presidente da nova sigla, que cultiva fidelidade canina a José Serra e se transformou no principal porta-voz de seus interesses políticos fora dos limites do PSDB.

chamada.jpg
JOGO COMBINADO
Na quarta-feira 17, Roberto Freire (abaixo) anunciou a fusão
do PPS com o PMN. Mas quem articulou tudo foi Serra

SERRA-02-IE.jpg

Conhecido por tomar decisões de última hora, José Serra dessa vez resolveu apressar o passo. Graças à corrida contra o relógio, o MD escapou por horas das novas regras que limitam os direitos dos novos partidos ao fundo partidário e ao tempo de propaganda eleitoral no rádio e na tevê. O projeto casuísta, que dificulta a criação de novos partidos, foi aprovado no afogadilho na quarta-feira 17, depois de uma articulação capitaneada pelo Palácio do Planalto por e deputados governistas. A proposta, que ainda precisa ser aprovada pelo Senado, praticamente sepultou as chances da Rede, comanda pela ex-senadora Marina Silva, e do Solidariedade, de Paulinho da Força, concorrerem competitivamente nas eleições do próximo ano. “Defendo que possa haver a limitação para a criação de partidos, mas não para as próximas eleições e aprovada dessa forma”, dispara o senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Querer inviabilizar de forma truculenta outras candidaturas mostra que o governo não está seguro para o confronto eleitoral”, completa o senador. “Isso é uma manobra que coloca em risco a democracia”, afirma Marina. No senado, Aécio já se movimenta para barrar a proposta do Planalto. Em outra trincheira, o governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), pré-candidato à sucessão presidencial, não descarta a possibilidade de recorrer ao STF caso o governo consiga impor as novas regras.

IEpag44e45SerraAttuch-1.jpg

Paralelo à essa discussão, o MD espera triplicar a atual bancada de 13 deputados federais com a chegada de dissidentes do DEM, PSD, PDT e PSDB. Para se estruturar, o partido conta com a simpatia do PSB. Campos e Serra já se encontraram reservadamente duas vezes. Durante um jantar com políticos na quarta-feira 18, em Brasília, Campos comentou a relação desgastada entre Serra e Aécio, enquanto dava sinais claros de que entrará na disputa ao Planalto. “O Aécio é o melhor candidato, só que tem dificuldades com o Serra. Azar para ele e sorte para mim”, declarou. Ao influir no partido da Mobilização Democrática, Serra tenta garantir sua sobrevivência política no momento em que caminha a passos largos rumo ao ostracismo. O ex-governador pode utilizar a legenda de Freire de duas formas: para se fortalecer na briga interna do PSDB ou como uma porta de saída, caso decida deixar a legenda. Há, entre lideranças tucanas, quem já se prepare para enfrentá-lo em palanques opostos, seja como cabeça de chapa na disputa ao Planalto, seja na posição de apoiador da candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. “Serra é especialista nesses movimentos de articulação. Usou o PSD para criar o PSDB 2, agora faz o PSDB 3”, diz um dirigente tucano.