Os 12 brasileiros presos desde 20 de fevereiro em Oruro, na Bolívia, acusados da morte do jovem boliviano Kevin Espada, atingido por um sinalizador na partida entre San José e Corinthians, tiveram um sopro de esperança na quarta-feira 17. Em uma inspeção realizada no estádio Jesús Bermúdez, palco da partida, eles, enfim, viram a dúvida ser plantada na mente das autoridades bolivianas que apuram o caso. “Pode-se dizer que a investigação só começou agora, dois meses depois, porque a embaixada brasileira não colaborou com seus conterrâneos desde o início do caso”, afirma o advogado Sérgio Marques, que, como integrante da nova defesa dos brasileiros, se mudou para Oruro há 20 dias para tentar pôr fim à lentidão na apuração dos fatos.

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O RETORNO
Brasileiros chegam ao estádio da tragédia, na Bolívia, sob forte escolta,
para uma inspeção: recomeço da investigação

Na inspeção no Jesús Bermúdez, quando os fatos foram apresentados no local, Marques defendeu as hipóteses de que o artefato que atingiu Espada pode não ter sido o lançado pelo menor H. A. M., autor confesso do disparo do sinalizador. Segundo o advogado , o jovem boliviano pode ter sido morto antes do início da partida. Se essas teses forem plausíveis – isso será divulgado nesta semana –, poderá ficar mais evidente que os 12 brasileiros foram vítimas de uma armadilha engendrada pelas autoridades bolivianas. E, pior, sucumbiram a ela pela falta de assistência diplomática brasileira na Bolívia. Levados à delegacia e lá interrogados, os torcedores assinaram seus depoimentos sem contar com o auxílio de um tradutor. Reclamam, desde o início, que muitas informações que constam do documento não foram ditas por eles. Outro fato que dá esperanças aos presos é a vinda ao País de um promotor boliviano para ouvir o adolescente H.A.M., o que foi acertado durante a visita do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo à Bolívia, na semana passada.

A inspeção no estádio demorou dois meses para acontecer. Graças a ela, passou a constar em ata que cinco dos 12 brasileiros disseram não estar nem sequer dentro do Jesús Bermúdez quando o sinalizador foi lançado. Mas essa e outras informações, que podem abalar a convicção das autoridades bolivianas sobre a culpa dos detidos, poderiam continuar desconhecidas, porque, de acordo com os advogados de defesa, a embaixada brasileira queria que o exame no estádio fosse cancelado. “Falei com o ministro Eduardo Saboia, da embaixada, depois de conseguir reverter o quadro. Ele me disse que estava cumprindo ordens superiores. Que história é essa?”, diz Marques. “As coisas agora estão andando porque esse serviço sujo, político, cheio de interesses pessoais da embaixada não está mais no comando.”

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A embaixada, situada em La Paz, nega que tenha pedido cancelamento da inspeção e argumenta que nenhum diplomata esteve na delegacia, porque o governo boliviano não avisou a chancelaria brasileira. O ministro Saboia afirma ainda que chegou a comprar colchões para os torcedores e que foi até o presídio, certa vez, para retirar seis dos 12 presos que se encontravam cumprindo um castigo no calabouço. Marques, o advogado dos brasileiros, entrou com uma medida cautelar na Corte Interamericana de Direitos Humanos, requerendo a soltura dos seus clientes. Algo que até agora não havia sido feito pelos diplomatas brasileiros.

Foto: STR/AFP Photo