19/04/2013 - 21:26
Após quase dois anos de queda constante dos juros, o Banco Central usou um remédio amargo, retrogrado e ineficiente para tentar combater uma alta de preços com cara de artificial e provisória. Com voto favorável do presidente Alexandre Tombini, o BC elevou, na quarta-feira 17, a taxa Selic (conhecida como a taxa básica de juros) de 7,25% para 7,50% ao ano. Para deleite do mercado financeiro, interessado nos ganhos proporcionados pelas taxas elevadas de juros, a “inflação do tomate”, provocada por uma diminuição na colheita foi combatida com a arma mais letal aos interesses dos brasileiros. A recaída de Tombini representa a derrota de setores do governo que vislumbravam uma pressão nos preços, mas a entendiam como um movimento temporário diante do desafio de manter o Brasil na rota do crescimento. Trata-se de um sinal trocado. Se tudo o que o governo mais persegue é a alta do PIB e o crescimento do País, não faz sentido adotar uma política recessiva. A taxa básica de juros passava por um processo de declínio desde que a presidenta Dilma Rousseff chegou ao poder. Foi graças à implementação dessa política que o País ampliou sua capacidade de investimento, contribuiu para que a população consumisse mais e aqueceu a economia. O tropeço de Tombini não poderia ser mais prejudicial à economia. Agora, teme-se que, além do consumo interno, a produção também seja fortemente afetada, caso não seja tomadas medidas estruturantes no curto prazo.
RECAÍDA
Postura errática de Alexandre Tombini, presidente do BC, desagrada
ao setor produtivo, que teme por estagnação da economia
Considerada a mais tensa dos últimos anos, a decisão contou com seis votos a favor da alta e dois pela manutenção da taxa. Em meio às pressões pela alta dos juros, até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, surpreendeu ao dar declarações favoráveis à medida na sexta-feira 12. “A taxa de juros é uma variável, não é estática. O Banco Central pode, se achar necessário, elevar os juros ou baixá-los. Isso pode ser feito a qualquer momento”, afirmou. Para o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, o aumento na taxa de juros está mais relacionado à garantia de ganhos do mercado financeiro do que ao controle inflacionário. “Qualquer variação na inflação faz com que o ganho real dos rentistas diminua”, afirma. “Eles se utilizam, então, do aumento de custo de vida, como a alta do preço do tomate, para pressionar por uma elevação da taxa de juros e manter seus ganhos”. Segundo Granz Lúcio, políticas menos imediatas resolveriam a questão. “Há outros remédios que não levariam a uma freada na economia, que não são de competência do Banco Central, mas de todo o governo”, observa. O economista da Fundação Getúlio Vargas, Samy Dana, concorda que, para manter o País comprometido com o crescimento, o aumento da taxa Selic não é o melhor remédio. Com os juros altos, a população tende a evitar operações financeiras, mantendo o dinheiro nos bancos e desestimulando o consumo. “As soluções passam por uma reforma no sistema tributário, investimentos nos setores de logística, infraestrutura e, sobretudo, na indústria”, acredita o economista. O diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octavio de Barros, também classificou a elevação da Selic como desnecessária, apesar de serena. “O cenário internacional só piora e é inequivocamente desinflacionário e não neutro como se supunha”.
Contrariando projeções pessimistas, algumas situações impulsionaram o mercado no último mês e mostraram que a alta de preços tem tudo para ser temporária e não deveria ser combatida com a alta dos juros. O preço do tomate, por exemplo, começou a perder força e registrou uma queda de 75% em relação ao preço de três semanas atrás. O país também registrou crescimento do emprego formal. Em março, o Brasil criou mais de 111 mil novos postos de trabalho com carteira assinada, melhor resultado para o mês nos últimos três anos. “Criou-se uma grande pressão para a subida dos juros, prejudicando as classes de menor poder aquisitivo e o pequeno e médio empresário”, afirma Wagner Iglesias, sociólogo da USP. “A medida compromete o investimento”, explica. No comunicado divulgado após a reunião, o Copom justificou a elevação de 0,25 ponto percentual nos juros dizendo que “avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão do aumento de preços, entre outros fatores, ensejam uma resposta da política monetária”. Mas pregou cautela, devido às incertezas internas e externas. O problema maior é que a alta na taxa de juros, até agora considerada moderada, pode ter aguçado o apetite do setor financeiro. Para alguns economistas, o tamanho do reajuste e a palavra “cautela” foram um sinal de que o Banco Central poderá adotar uma posição gradualista no ciclo de aperto monetário. Representantes do mercado apostam que a taxa Selic ainda deverá passar por mais três ou quatro altas de 0,25%. O economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs no Brasil, afirmou que o comunicado do Copom mostrou um “pulso que não é tão firme”. O recado é claro: o mercado financeiro ainda espera por novas altas em menores períodos de tempo. Pior para o País.