Os sócios do Jockey Club de São Paulo estão diante de um dilema: pagar ou não mensalidades. O que parece absolutamente razoável para qualquer clube é, no caso, o fim do último resquício dos tempos de glória. Um passado onde a sociedade paulistana nem sequer precisava bancar os custos de manutenção das luxuosas instalações de Cidade Jardim porque o movimento das apostas do hipódromo cobria todas as despesas. Esvaziado pelas crescentes alternativas de diversão e de sorteios milionários como a Megasena, o Jockey tenta agora sair de uma crise financeira que chegou a ameaçar sua sobrevivência. A decisão é tão polêmica que a assembléia responsável por acabar com a regalia, no último dia 21, foi suspensa e uma nova reunião está marcada para o próximo dia 13. “Entendo as resistências dos sócios mais antigos, mas o clube precisa se adaptar a uma nova realidade para ser viável”, justifica Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, que hoje cuida das finanças numa diretoria de notáveis, eleita em março com a missão de salvar o clube da falência.

Em seis meses à frente do clube, a diretoria encabeçada por Antonio Grisi Filho reverteu o prejuízo mensal de R$ 150 mil – sem incluir os juros da dívida bancária de R$ 7 milhões. Para chegar lá, renegociou todos os contratos terceirizados, passou a cobrar serviços antes gratuitos, como transporte de cavalos, e reduziu o quadro de funcionários de 845 para 695 empregados, numa economia total de cerca de R$ 550 mil mensais entre cortes de despesas e geração de novas receitas. Para se ter uma idéia, o restaurante principal do clube dava um prejuízo mensal de R$ 40 mil e hoje está licenciado para o empresário Charlô Wately. A mesma assembléia, aberta aos cerca de 8.500 sócios, já aprovou outra medida drástica para estancar a sangria provocada pela dívida com os bancos: a venda de imóveis. “Mas como isso não pode ser feito num estalar de dedos, estamos propondo um período de transição, com cobrança de mensalidades para bancar os juros e evitar que não tenhamos caixa para tocar o clube”, explica Eris. Vencidos os problemas emergenciais, somente então poderão ser estudadas as formas de se reinvestir na modernização do Jockey, tanto para as corridas de cavalos como para dar novas alternativas de lazer aos sócios. Afinal, para escapar da falência, o clube teve de abrir seus portões para o público em geral, que frequenta os bares e restaurantes. Quanto à sonhada profissionalização das corridas de cavalo, será um projeto para o futuro, pois talvez seja até necessário adaptar a Lei de Turfe à realidade do moderno mundo das apostas.